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Varejo patina na bolsa, mas ainda concentra apostas

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No momento em que os investidores se questionam se foram otimistas demais quanto ao ritmo de recuperação da economia, o setor de varejo ainda sustenta as apostas do mercado e ganha mais representatividade no Ibovespa. Depois da chegada de Magazine Luiza e Via Varejo no começo do ano, agora é a vez da B2W integrar o principal índice do mercado e isso deve renovar a liquidez para um dos setores mais importantes para o Brasil.

Segundo gestores e analistas ouvidos pelo Valor, a entrada da B2W não deve gerar uma corrida por uma realocação entre as companhias do setor que já estão no índice. A liquidez da bolsa deve inclusive crescer, ainda que de forma marginal, tanto para o índice quanto para a própria companhia, com fundos passivos – que replicam o “benchmark” do mercado – colocando os papéis da empresa em carteira.

No médio prazo, a chegada da ação ao Ibovespa deve despertar também a atenção dos estrangeiros, que se ausentaram do mercado mais recentemente com os receios políticos e com a falta de ânimo também no exterior.

“Não vejo uma concorrência entre as varejistas com a entrada [da B2W]. A visibilidade para a ação deve até levar mais gente a operar o papel, o que já é positivo por si só”, afirma um gestor de um grande fundo de São Paulo, que prefere não ser identificado. “E, para o índice, cresce a participação do varejo, que ainda é muito pequena.”

O gestor afirma que o fundo tem, atualmente, posição tanto na subsidiária da Lojas Americanas como em outras empresas do setor. E o momento, defende ele, é bastante positivo para essas companhias, ainda que os receios tenham crescido entre os investidores nas últimas semanas.

As vendas no varejo restrito foram a mais recente surpresa negativa ao recuarem 0,2% em fevereiro, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). E a leitura de que a economia não está reagindo tão forte como o antecipado já leva o Ibovespa a acumular queda de 1,21% em abril, depois de encerrar a segunda semana do mês em baixa de 0,57%.

As varejistas chegaram a abril liderando os desempenhos negativos da bolsa. Enquanto o Ibovespa sobe 10,38% no ano, a Lojas Renner, empresa do setor com maior participação no índice, cai 6,42%, enquanto a Raia Drogasil cede 23,94%, quarto pior desempenho até agora.

As perspectivas para o setor varejista, entretanto, continuam boas e algumas ações defendem seus ganhos, caso da própria Lojas Americanas, cuja ação sobe 7,17% no ano. Na mesma dinâmica, a ação do Magazine Luiza, que subiu 500% no ano passado, acumula valorização de 22,48% em 2018.

No caso específico da B2W, operadores também notam que a empresa está em um período de importante geração de caixa e do crescimento do segmento marketplace (shopping virtual). “Antes, a cada dois anos a empresa precisava de um aumento de capital e agora estamos vendo uma mudança”, diz um gestor.

Para Renato Ometto, sócio da Mauá Capital, o aumento da liquidez, ainda que marginal, deve ser visto, com a atuação dos fundos indexados ao Ibovespa. Entretanto, para a leitura fundamentalista da bolsa, que considera a situação financeira da companhia, nada muda – e os receios sobre a caminhada da atividade brasileira não são suficientes para derrubar as varejistas. Atualmente, a Mauá mantém 8% de posição em Magazine Luiza e 9% em Via Varejo.

A entrada da B2W no Ibovespa engrossa o caldo das varejistas que compõem a principal referência do mercado brasileiro de ações, mas o índice ainda está muito distante de representar a economia real. A entrada de mais uma empresa do varejo diminui a distorção histórica do mercado, mas ele ainda segue concentrado em dois grupos: commodities e bancos. O consumo das famílias representa atualmente 63,4% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto nenhuma varejista ou companhia de serviços, sem ser financeiro, alcança sequer 2% do Ibovespa.

“Cerca de 50% do peso do índice está concentrado em cinco empresas: Ambev, Itaú Unibanco, Bradesco, Vale e Petrobras. Nossa economia não é feita apenas dessas empresas”, destaca Michael Viriato, coordenador do Laboratório de Finanças do Insper.

O especialista destaca que, embora o setor financeiro tenha um peso importante para várias bolsas do mundo, ele tem um tamanho menor lá fora. No americano Dow Jones, por exemplo, serviços financeiros têm fatia de 20,4%, enquanto varejo e serviços são cerca de 10% do indicador. No Ibovespa, as principais companhias do setor, incluindo empresas de shopping center, têm peso de cerca de 7%. Vale também destacar que o Dow Jones, com 30 ações, é menor do que o Ibovespa, que tem 66 ativos. Ou seja, mesmo com menos empresas, o índice americano tem uma variedade maior do que o brasileiro.

“O Ibovespa é ponderado pelo valor de mercado e o tamanho das companhias. A Ambev tem sozinha cerca de 70% do mercado de cerveja no Brasil, ou seja, a representatividade do Ibovespa é de uma economia concentrada”, afirma. “Isso tende a melhorar com novas emissões, conforme cresça a economia e as empresas consigam elevar a concorrência.”

A B2W entrou na carteira teórica do Ibovespa na primeira prévia, divulgada pela B3 no começo do mês. Na ocasião, a Gol também foi incluída no índice, enquanto a Marfrig foi retirada. A B3 ainda divulgará mais duas prévias da carteira, que vai vigorar de maio a agosto.

Fonte: Valor Econômico

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