A venda da Natulab, anunciada em abril deste ano, foi marcada por fraudes, desavenças, valores simbólicos e ações judiciais. As informações são do portal Pipeline.
A indústria farmacêutica era administrada majoritariamente pelo fundo de investimentos Pátria e agora teve o controle adquirido pelo grupo Pettra.
O negócio foi concretizado na última quarta-feira, dia 8, com o pagamento à vista de R$ 1 mil, valor simbólico distribuído proporcionalmente entre todos os acionistas. O montante pode chegar a R$ 42 milhões daqui a cinco anos, a depender de metas e condições estipuladas entre as empresas.
Segundo a reportagem, a decisão da venda teria sido tomada há mais de dois anos, quando o Pátria e o banco Santander iniciaram a busca por interessados. As duas companhias mapearam 65 possíveis compradores.
No entanto, dois entraves comprometeram a procura. A operação com resultados negativos da empresa e um esquema de fraude, revelado pelo conselho em 2020, teriam afastado o interesse de diversos investidores, que terminou com apenas duas propostas.
A denúncia levou a cúpula da empresa a contratar uma investigação independente, que apontou irregularidades em emissões de duplicatas e compensações tributárias, além de fraudes financeiras. Diversos funcionários e executivos foram demitidos por envolvimento direto ou negligência.
Acionistas minoritários questionam venda da Natulab
A venda da Natulab não foi suficiente para cobrir os investimentos realizados pelos acionistas, que tiveram de assumir um prejuízo. Esse é um dos motivos de indignação do grupo de acionistas minoritários italianos, que tentou impedir a negociação com uma liminar judicial.
No pedido à Justiça, eles alegam que o processo de venda da Natulab foi enviesado, reclamam da falta de transparência e principalmente de uma cláusula que beneficiaria apenas o fundo de investimentos Pátria, além de uma possível parcialidade de Pinheiro Neto, advogado que fez parte da investigação independente e que já tem um histórico de trabalho com o grupo Pátria.
“Das dívidas da empresa, somente essas debêntures detidas pelo Pátria entraram como condição da venda. Na avaliação dos minoritários, é um processo que está enviesado. A emissão das debêntures se deu numa situação de crise da companhia, que advém de um problema da administração escolhida pelo Pátria, que controlava a empresa e liderou a investigação. Esses investidores foram arrastados para a venda pela cláusula de drag along, mas não em situação de anuência”, afirmou Tiago Cisneiros, advogado dos minoritários.
A cláusula que gerou revolta prevê uma eventual quitação da dívida da Natulab com o fundo, estipulada em R$ 220 milhões. Essa condição faria com que o Pátria saísse menos prejudicado que os demais investidores.
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Pátria discorda dos minoritários
Em nota, o grupo explicou o funcionamento do conselho da Natulab, que era integrado principalmente por indicações do Pátria, mas contava com representantes dos italianos. O fundo reforçou que todas as decisões foram tomadas com o conhecimento e a aprovação dos mesmos.
“Ao longo dos últimos anos, a emissão de dívida e alterações na diretoria foram discutidas com transparência e aprovadas no conselho de administração, no qual os minoritários possuem representação ativa e votaram em concordância com as deliberações referentes a esses e outros temas. A venda da Natulab foi concluída com sucesso, após a Justiça rejeitar categoricamente um pedido de liminar contrária à transação feito por acionistas minoritários”, declarou.
Planos futuros
O grupo Pettra já assumiu o comando da farmacêutica e implementou mudanças na tentativa de retomar os lucros da Natulab, que chegou a ser apontada como o laboratório que mais cresceu em 2022, de acordo com a IQVIA, saltando 11 posições no ranking do setor.
CEO da Natulab se posiciona sobre o tema
Em contato com a redação do Panorama Farmacêutico, Guilherme Maradei, CEO da Natulab, posicionou-se sobre o tema.
Segundo ele, a fraude ocorrida em 2020 levou a indústria farmacêutica a mudar sua equipe de executivos, que iniciou atuação na Natulab em 2021 e permanecerá na empresa nesse novo ciclo. Agora, para auxiliar esse time e como integrante do conselho de acionistas, a companhia recrutou Ronnie Mota, ex-CEO da Bombril.
De acordo com Maradei, essa equipe liderou a retomada do volume de negócios do laboratório. O Ebitda, que havia sido negativo em 2020, teve resultado recorde em 2022. “O desenvolvimento dessa estratégia foi determinante para melhorar os resultados e viabilizou a atração de investidores e a venda da empresa por um múltiplo acima da média do mercado”, declarou.