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A infectologista Dra. Silvia Fonseca defende a imunização e o uso das vacinas

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O debate sobre a imunização contra a Covid-19 está entre os temas mais falados no Brasil, atualmente. Com parte dos brasileiros já sendo imunizados, muitas dúvidas começaram a surgir sobre quem pode ou não se vacinar. As vacinas são uma das medidas mais eficientes no combate às doenças infecciosas, principalmente das infecções causadas por vírus, pois são muito prevalentes na natureza e há poucas medicações específicas contra vírus. Os antibióticos, por exemplo, são completamente inúteis, nas infecções virais. As poucas drogas antivirais de que dispomos hoje são caras e são eficientes somente se administradas no começo da infecção, como no caso da gripe causada pelo vírus influenza, que pode ser combatida nas primeiras 48 horas de sintomas. Mesmo no caso do HIV, sabemos que as medicações são eficientes para controlar o vírus, mas não erradicá-lo e as pessoas infectadas por ele devem tomar as medicações durante o restante da vida.

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As novas vacinas contra o novo coronavírus representam a esperança de controle desta infecção que já matou mais de dois milhões de pessoas no mundo, em apenas um ano de existência. No Brasil, há mais de 200 mil famílias enlutadas hoje pelo avanço da Covid-19. Para controlar essa infecção, além de máscaras, álcool gel e distanciamento social, precisamos das vacinas. E temos hoje a ciência a nosso favor. Graças aos esforços impressionantes de milhares de cientistas no mundo, conseguimos várias vacinas eficientes e seguras que irão proteger milhões de pessoas do planeta. No Brasil, com o registro emergencial de duas vacinas, já conseguimos imunizar cerca de dois milhões de pessoas e, com o avanço da imunização, veremos a queda das infecções nos próximos meses.

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Os cientistas estão se preparando para epidemias virais há muitas décadas, desde o surgimento de SARS-1, ebola e H1N1. Muito do pensamento do que fazer nestes casos de epidemia e pandemia já estava sendo estudado, assim como apoio das tecnologias para fundamentar estas pesquisas. O vírus que causa a Covid-19 foi rapidamente isolado e estudado, logo que os primeiros casos de infecção começaram a acontecer e isso ajudou muito no desenvolvimento da vacina. O genoma do vírus – o equivalente ao “RG” do vírus – foi estudado. O que possibilitou o aparecimento de testes diagnósticos e em seguida o desenvolvimento das vacinas. O processo regulatório delas é sério e minucioso, no Brasil e no mundo. Não há o que temer. Mais uma vez, a ciência vai nos ajudar a viver mais e melhor. É preciso observar que geralmente quem coloca informações assustadoras nas redes sociais não é médico, não é cientista e não passou os últimos meses estudando e se dedicando a acabar com esta doença.

Com a dificuldade de insumos, algumas escolhas tiveram que ser feitas. Num primeiro momento, foi preciso proteger quem cuida dos doentes, pois se médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e toda pessoa de apoio de hospitais ficarem doentes, não haverá condições de cuidar dos pacientes que não param de chegar. Ao mesmo tempo, estamos tentando vacinar os mais vulneráveis primeiro, ou seja, aqueles nos quais a infecção é devastadora em grandes proporções, como por exemplo, os idosos em situação de asilos e casas de repouso. Mas, com investimento e organização, todos serão vacinados.

As vacinas são um presente da Ciência à Humanidade. Devemos valorizá-las e apoiá-las e celebrarmos esta conquista segura em momentos tão desafiadores. Devemos aproveitar que o Brasil tem o maior programa de imunização gratuita do mundo e pelo menos dois institutos nacionais sérios produzindo vacinas – isso é um privilégio! Quando chegar sua vez de receber a vacina contra a Covid-19 – não hesite- vacine-se!

O alerta sobre outras infecções e a importância do uso das vacinas

Algumas infecções, como é o caso da poliomielite e difteria, ainda existem na natureza e em populações não vacinadas, infelizmente. A poliomielite é caracterizada por uma paralisia de músculos, sendo que uma em cada 200 infecções leva a uma paralisia irreversível (geralmente das pernas). Entre os acometidos, 5% a 10% morrem por paralisia dos músculos respiratórios. A poliomielite afetava cerca de 15 mil crianças todos os anos nos Estados Unidos e com a vacinação de todas as crianças a partir da década de 1960 a doença foi erradicada em 1979.

No Brasil, o último caso documentado foi em 1989, graças a um esforço descomunal do Programa Nacional de Imunizações, criado em 1973, quando as vacinas contra pólio passaram a ser oferecidas gratuitamente a toda população. Desde 1994, somos considerados um país livre da poliomielite. Mas enquanto houver uma criança infectada, crianças de todos os países correm o risco de contrair a doença. Se a doença não for erradicada, podem ocorrer até 200 mil novos casos no mundo, a cada ano, dentro do período de uma década. O vírus da rubéola, que causa malformações no feto, se contaminasse uma gestante, era responsável por cerca de 30 mil infecções todos os anos na década de 1990, inclusive em adultos jovens. Através de um grande programa de vacinação, os casos foram decrescendo e em 2009 a rubéola foi notificada pela última vez. Mas o caso do sarampo nos alerta sobre o que pode acontecer num futuro próximo. O sarampo, que pode causar pneumonia, cegueira e surdez e até morte, principalmente nos menores de um ano, chegava a causar mais de três mil mortes anualmente no Brasil, no passado, e, graças à vacinação em massa, recebemos o certificado de erradicação do sarampo em 2016.

Infelizmente já perdemos este certificado, pois desde 2018 o Brasil tem apresentado grandes surtos de sarampo, atingindo crianças e adultos, com várias mortes. No mundo, em 2018 o sarampo matou mais de 200 mil pessoas. Esse ressurgimento do sarampo está fortemente ligado à diminuição da cobertura vacinal, pois a vacina contra sarampo pode erradicar completamente esta terrível infecção. Há alguns anos, as pessoas têm deixado de vacinar as crianças, apesar da gratuidade das vacinas, da segurança e sua disponibilidade delas em centenas de postos de saúde espalhados por todo território nacional. Uma pena! É preciso estar atento. Especialistas vêm alertando sobre o perigo da volta não somente do sarampo, mas da difteria, coqueluche e rubéola, causando sofrimento e mortes.

Nascida em São Paulo capital, a médica Dra. Silvia Nunes Szente Fonseca escolheu a profissão após a leitura do livro “Olhai os Lírios do Campo”, de Érico Veríssimo. Silvia se formou pela Faculdade de Medicina USP-SP (FMUSP) em 1983. No ano seguinte, iniciou a residência em pediatria no Instituto da Criança, ainda pela USP, e concluiu em 1986. Em 1987, foi fazer mestrado nos EUA, na Universidade de Yale, estudou epidemiologia de doenças infecciosas e concluiu esta fase de estudos em 1991. Dois anos depois, fez fellowship em doenças infecciosas ainda na universidade americana até o ano de 1993. De volta ao Brasil, em 1994, entrou para compor a equipe do Hospital São Francisco como médica do controle de infecção. Entrou no Sistema Hapvida em 2019 e, desde o ano passado, assumiu o cargo de diretora corporativa de infectologia da companhia.

Fonte: Folha de Pernambuco

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