Coqueluche: o que é, sintomas, causas e tratamentos
Doença respiratória bacteriana altamente contagiosa, prevenível por vacinação, que demanda vigilância constante e impacta políticas públicas, produção de vacinas e mercado farmacêutico no Brasil.


Índice
- Mecanismo de transmissão e patogênese
- Aplicações terapêuticas e manejo clínico
- Relação com a indústria farmacêutica e o sistema de saúde
- Vacinas, calendário e políticas públicas
- Riscos da coqueluche, efeitos adversos e controvérsias
- Situação regulatória
- Histórico e curiosidades
- Perguntas frequentes sobre a coqueluche
A coqueluche, ou pertussis, é uma infecção respiratória aguda causada pela bactéria Bordetella pertussis, caracterizada por crises de tosse seca seguidas de um som agudo inspiratório – o “galo”. É uma enfermidade de notificação compulsória e ciclo epidêmico, ocorrendo picos a cada três a cinco anos.

O agente patogênico foi descrito no fim do século XIX; desde então, a principal forma de prevenção é a imunização. No Brasil, vacinas celulares (DTP) e acelulares (dTpa) fazem parte do Programa Nacional de Imunizações (PNI) desde a década de 1970, com produção nacional pelo Instituto Butantan e parcerias internacionais.
Em 2024, o Ministério da Saúde notificou 7.440 casos confirmados de coqueluche, tendência de alta alinhada ao aumento global observado em pelo menos 17 países europeus, reforçando o alerta para cobertura vacinal e disponibilidade de antibióticos macrolídeos (fonte GOV.BR).
Mecanismo de transmissão e patogênese
A bactéria causadora da coqueluche é transmitida por gotículas respiratórias. A bactéria adere ao epitélio traqueobrônquico e libera toxinas (pertussis, adenilato-ciclase, dermonecrótica) que inibem a depuração mucociliar, levando a inflamação persistente e episódios paroxísticos de tosse. Além da morbidade, lactentes podem evoluir para apneia, pneumonia e óbito.
Aplicações terapêuticas e manejo clínico
O tratamento de primeira linha contra a coqueluche são antibióticos macrolídeos – azitromicina, claritromicina ou eritromicina – que reduzem transmissibilidade se iniciados até a 3.ª semana de doença. Em casos de intolerância, utiliza-se trimetoprim-sulfametoxazol. Há relatos emergentes de resistência aos macrolídeos, exigindo monitoramento laboratorial e P&D de novas moléculas
Tabela 1 – Antibióticos recomendados
Faixa etária / situação | 1ª escolha | Alternativa | Duração típica |
---|---|---|---|
< 1 mês | Azitromicina | – | 5 dias |
≥ 1 mês | Azitromicina ou Claritromicina | Eritromicina | 7–14 dias |
Alergia a macrolídeos | Trimetoprim-sulfametoxazol | – | 14 dias |
Fontes: CDC; Ministério da Saúde. cdc.gov
Relação com a indústria farmacêutica e o sistema de saúde
A vacina tríplice bacteriana (DTP) de células inteiras é fabricada pelo Instituto Butantan, em parceria com Bio-Manguinhos para a formulação pentavalente (inclui Hib e Hep B). Vacinas acelulares (dTpa) são importadas por laboratórios multinacionais (Sanofi, GSK) e distribuídas pelo PNI para reforços em crianças, gestantes e profissionais de saúde. A demanda anual brasileira gira em torno de 15 milhões de doses, movimentando contratos públicos superiores a R$ 400 milhões.
Essa cadeia impulsiona inovação local (ex.: redução de testes em animais) e parcerias de transferência de tecnologia, além de criar oportunidades para fabricantes de insumos diagnósticos (PCR em tempo real) e kits de sorologia, hoje em expansão por causa da vigilância hospitalar.
Vacinas, calendário e políticas públicas
Tabela 2 – Esquema de imunização contra coqueluche (PNI 2024)
Idade / grupo | Vacina | Doses | Observações |
---|---|---|---|
2, 4, 6 meses | Pentavalente (DTP-Hib-Hep B) | 3 | Dose de 0,5 mL IM |
15 meses | DTP | 1 (1.º reforço) | |
4 anos | DTP | 1 (2.º reforço) | |
≥ 7 anos | dTpa | 1 (reforço) | Substitui dT convencional |
Gestantes ≥ 20.ª semana | dTpa | 1 a cada gestação | Proteção de recém-nascidos |
Fontes: Calendário Nacional de Vacinação 2024; Nota Técnica Conjunta 70/2024.
O Brasil mantém cobertura-alvo de 95 % para a pentavalente, mas desde 2020 observa queda abaixo de 80 % em alguns estados. Estratégias do Ministério da Saúde incluem campanhas sazonais, ampliação de salas de vacina e incorporação de dTpa em farmácias privadas sob prescrição.
Riscos da coqueluche, efeitos adversos e controvérsias
- Vacinas celulares (DTP): febre, dor local e, raramente, convulsões febris. Debate histórico sobre reatogenicidade motivou desenvolvimento de vacinas acelulares.
- Vacinas acelulares (dTpa): menor incidência de eventos, mas estudos sugerem imunidade menos duradoura, exigindo reforços mais frequentes.
- Antimicrobianos: resistência crescente em alguns países pressiona vigilância de uso racional.
Situação regulatória
A coqueluche é doença de notificação compulsória (Portaria GM/MS 2649/2023). Anvisa exige registro sanitário para vacinas DTP/dTpa e mantém guia de Boas Práticas para controle de toxóides. O PNI define a oferta gratuita; aplicação em farmácias está autorizada pela RDC 197/2017. Internacionalmente, OMS recomenda reforço materno desde 2012; EMA e FDA aprovam dTpa para gestantes desde 2011.
Histórico e curiosidades
- A primeira vacina de células inteiras foi licenciada em 1940; sua inclusão em programas nacionais reduziu mortalidade infantil em > 90 %.
- O termo “whooping cough” descreve o som característico do “galo”.
- Na década de 1970, campanhas de vacinação massiva inspiraram o modelo do PNI brasileiro.
- Em 2023, a OMS classificou a hesitação vacinal como uma das dez principais ameaças à saúde global, influenciando políticas de comunicação sobre coqueluche.
Perguntas frequentes sobre a coqueluche
Tosse seca em crises, seguida de chiado inspiratório (“galo”), podendo causar vômitos e cianose em bebês.
Sim. Ela contém o componente DTP e é aplicada aos 2, 4 e 6 meses de vida.
Precisam, a partir da 20.ª semana, mesmo que tenham sido vacinadas previamente, para transferir anticorpos ao bebê.
Recomenda-se uma dose de dTpa para adultos que não receberam DTP na infância ou há mais de 10 anos.
Preferencialmente por PCR em nasofaringe nas primeiras 3 semanas; sorologia pode ser útil após esse período.
Macrolídeos (azitromicina, claritromicina ou eritromicina); iniciar o quanto antes reduz transmissão.
Sim. A imunidade diminui com o tempo e oscilações de cobertura vacinal favorecem surtos cíclicos.