A vacina, que até bem pouco tempo atrás era tão disputada, nesta quinta-feira (21), em Guarulhos, está sobrando. A prefeitura da cidade fez um apelo à população para evitar que doses da Pfizer que estavam perto da data de vencimento fossem parar no lixo.
A estudante Roberta Araújo da Silva, de 18 anos, atendeu ao chamado e garantiu a segunda dose com um mês de antecedência.
‘Tinha visto na TV que tinha antecipado a minha vacina, que é a Pfizer. Aí eu vim ver se realmente estavam antecipando. Estavam e eu vim tomar’, conta Roberta.
Essa sobra é porque muita gente não tomou a segunda dose. Situação que piorou com as últimas decisões para reduzir o intervalo entre as doses da Pfizer.
Em maio, eram 12 semanas; em setembro, caiu para 8; e na terça-feira (19), o governo de São Paulo passou para 21 dias para quem tem mais de 18 anos.
‘No início da pandemia, nós não tínhamos vacina. Hoje, nós temos vacina e, no momento, está faltando braço para vacinar. Não está sobrando vacina. Essas vacinas são decorrentes da primeira dose que tem que ser feita a segunda dose. Diminuiu o prazo, nós temos que correr para a divulgação’, diz Ricardo Rui, secretário de Saúde de Guarulhos (SP).
A epidemiologista Denise Garrett, vice-presidente do Instituto Sabin, diz que a própria bula da vacina indica o intervalo de 21 dias. Mas ressalta que estudos científicos recentes mostram que a proteção da Pfizer melhora com um intervalo maior.
‘Porque nós já temos dados de que um intervalo maior de seis a 12 semanas aumenta a resposta imune. Então, essa decisão do intervalo, que você usa o intervalo recomendado, de 21 dias, ou se você aumenta o intervalo tem que ser pesado contra os benefícios mais imediatos de aplicar as duas doses mais rapidamente’, afirma Denise Garrett.
‘Porque nós já temos dados de que um intervalo maior de seis a 12 semanas aumenta a resposta imune. Então, essa decisão do intervalo, que você usa o intervalo recomendado, de 21 dias, ou se você aumenta o intervalo tem que ser pesado contra os benefícios mais imediatos de aplicar as duas doses mais rapidamente’, afirma Denise Garrett.
Já a cidade de São Paulo voltou a enfrentar desabastecimento de AstraZeneca. Quase 62% dos postos de saúde registraram nesta quinta-feira (21) falta do imunizante. A universitária Gabriela Ribeiro saiu frustrada.
‘Falaram que eu podia tomar em dois meses, e aí minha irmã veio ontem, ela conseguiu tomar e eu não consegui. E ela tomou primeira dose junto comigo’, conta.
Belo Horizonte vive um problema parecido. Moradores que deveriam receber nesta quinta a segunda dose da AstraZeneca tiveram que tomar o imunizante da Pfizer porque o estoque.
No Distrito Federal, o governo precisou reduzir a vacinação de jovens de 12 a 17 anos durante duas semanas por falta de doses. Só na quarta-feira (20) a situação foi normalizada.
Essas distorções no ritmo da vacinação pelo país não são uma novidade: vêm desde o início da campanha, em janeiro. E, na visão de especialistas, podem se aprofundar se não houver uma melhor articulação entre o governo federal, estados e municípios.
Estudos feitos pela Confederação Nacional de Municípios mostram que essa falta de diálogo já impacta na vacinação.
‘25% dos municípios do Brasil pesquisados estão, hoje, com falta de vacina. Isso é dado real das nossas pesquisas. 1,5% tem vacinas em excesso, que não precisariam estar recebendo vacinas. Uma coisa muito grave, já que a vacina ainda é pouca. Se ela é pouca, ela tem que ser muito bem colocada, muito bem distribuída’, afirma Paulo Ziulkoski, presidente da Confederação Nacional de Municípios.
‘25% dos municípios do Brasil pesquisados estão, hoje, com falta de vacina. Isso é dado real das nossas pesquisas. 1,5% tem vacinas em excesso, que não precisariam estar recebendo vacinas. Uma coisa muito grave, já que a vacina ainda é pouca. Se ela é pouca, ela tem que ser muito bem colocada, muito bem distribuída’, afirma Paulo Ziulkoski, presidente da Confederação Nacional de Municípios.
O governo do estado de São Paulo afirmou que segue a orientação da bula da vacina da Pfizer aprovada pela Anvisa; que o intervalo de 21 dias entre as doses é baseado em estudos clínicos e científicos dos fabricantes e também é seguido por órgãos reguladores como Estados Unidos e da Inglaterra. O governo afirmou ainda que todos os municípios do estado receberam doses suficientes de imunizantes e de forma proporcional para os públicos-alvo da campanha.
O Ministério da Saúde disse que a distribuição das doses é feita por um acordo com estados, municípios e Distrito Federal; que os estados são responsáveis pela distribuição aos municípios; e que, se as orientações do Plano Nacional forem cumpridas, não faltarão doses.
Fonte: G1.Globo
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