Os ftalatos são uma espécie de produto curinga nas indústrias. Conseguem tornar plásticos rígidos em maleáveis — comuns em brinquedos infantis —, e são muito usados em cosméticos, pois garantem a fixação da cor do esmalte e dão aquele aspecto cremoso aos condicionadores e xampus, entre outras utilidades.
Os impactos desses compostos na saúde humana, porém, têm despertado investigações científicas, com resultados preocupantes. Um deles acaba de ser divulgado pelo National Institutes of Health, dos Estados Unidos, e mostra que grávidas expostas aos ftalatos têm um risco aumentado de terem um parto prematuro, dando à luz três ou mais semanas antes da data recomendada.
Segundo os autores, trata-se do maior estudo sobre o tema feito até hoje. Para isso, o grupo analisou dados de 6.045 grávidas, com, em média, 26 anos, que deram à luz entre 1983 e 2018. Do grupo, 539 mulheres — o equivalente a 9% da amostra — tiveram um parto prematuro, antes de se completar a 37ª semana de gestação. Metabólitos de ftalatos foram encontrados em mais de 96% das amostras de urina coletadas dessas gestantes.
A exposição a quatro dos 11 ftalatos encontrados nas voluntárias foi associada a uma probabilidade de 14% a 16% maior de ter um bebê antes do tempo recomendado. Segundo os autores do estudo, publicado na revista Jama Pediatrics, as descobertas mais consistentes foram para a exposição a um ftalato que é comumente usado em produtos de cuidados pessoais, como esmaltes e cosméticos, chamado mono-N-butil-ftalato.
No artigo, os autores avaliam que os resultados do trabalho sugerem que a exposição ao ftalato durante a gravidez pode ser um fator de risco evitável para o parto prematuro. Em nota Kelly Ferguson, autora sênior do estudo, enfatiza a importância de detectar essas vulnerabilidades. “Ter um parto prematuro pode ser perigoso tanto para o bebê quanto para a mãe. Por isso, é importante identificar os fatores de risco que podem ser evitados.”
Redução de danos
Os pesquisadores também usaram modelos estatísticos para simular intervenções que pudessem amenizar os impactos dos ftalatos na gestação. Descobriram que reduzir a mistura de níveis de metabólitos de ftalatos em 50% poderia prevenir partos prematuros em, em média, 12%.
Os cientistas indicam algumas medidas que podem ajudar nessa queda da exposição. Escolher produtos de higiene pessoal sem ftalatos, ações voluntárias de empresas para reduzir o uso desses produtos e mudanças nos padrões e nas regulamentações estão entre elas.
O grupo também sugere que as gestantes optem por comer alimentos frescos e caseiros, evitando, dessa forma, os processados que vêm em recipientes ou embalagens plásticas. Vale ainda o cuidado com produtos com fragrância, já que os ftalatos funcionam como fixadores de aromas e cheiros, inclusive em perfumes, indicam os autores.
“É difícil para as pessoas eliminarem completamente a exposição a esses produtos químicos na vida cotidiana, mas nossos resultados mostram que mesmo pequenas reduções em uma grande população podem ter impactos positivos tanto nas mães quanto nos filhos”, afirma Barrett Welch, primeiro autor do estudo.
A equipe segue investigando a ligação entre os partos prematuros e a exposição aos ftalatos. Agora, realizam estudos adicionais para entender melhor os mecanismos que podem estar ligados a essa associação e determinar se existem maneiras eficazes para as mães amenizarem essa vulnerabilidade.
Azeite pode melhorar o leite materno
O consumo de azeite extravirgem durante a gravidez aumenta o nível de antioxidantes no leite materno, que podem também atravessar a barreira placentária e chegar ao feto em formação, mostra um estudo espanhol divulgado na última edição da revista Food Chemistry. Por enquanto, o grupo constatou esse efeito em experimentos com camundongos, mas a expectativa é de que isso se repita entre os humanos.
“Até o momento, vários estudos descreveram que a composição do leite materno pode ser afetada por fatores biológicos e ambientais aos quais a mãe está exposta, como a dieta”, argumentam os autores do estudo. “Portanto, as intervenções nutricionais durante a gestação e o período de amamentação podem repercutir na qualidade do leite materno e, consequentemente, na saúde do lactente.”
A equipe identificou o aumento na quantidade de antioxidantes após análise que avaliou qualitativa e quantitativamente os níveis de compostos fenólicos e seus derivados em amostras biológicas da fêmea grávida e da prole após seis semanas de ingestão diária do azeite.
Os resultados mostram que os compostos fenólicos provenientes da dieta rica em azeite extravirgem chegam à circulação sistêmica das mães. Curiosamente, alguns desses antioxidantes estavam em maiores concentrações no plasma da prole do que no das mães.
“Nosso trabalho esclarece a importância da alimentação da mulher durante a gravidez e a lactação e fornece a base para futuros estudos sobre o impacto dos compostos fenólicos na saúde da mãe e do bebê”, frisa o grupo, liderado por Maria J. Rodríguez-Lagunas e Anna Vallverdú-Queralt, da Universidade de Barcelona.
Fonte: Correio Braziliense