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COVID-19: medicamentos aumentam risco de resistência antimicrobiana

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O famoso “kit Covid”, que, mesmo sem comprovação científica, é amplamente indicado como tratamento precoce para a COVID-19, pode agravar a resistência antimicrobiana. É o que aponta um estudo realizado pelo consórcio internacional MetaSub.

Na pesquisa, especialistas em genômica, análise de dados, engenharia, epidemiologia e saúde pública, responsáveis por mapear a microbiota – variedade e quantidade de bactérias, fungos, vírus e outros microrganismos –, em parceria com o A.C.Camargo Cancer Center, localizado em São Paulo, concluíram a possibilidade de possíveis impactos da lotação dos hospitais e do uso excessivo de medicações, inclusive a hidroxicloroquina, item do chamado “kit Covid” defendido pelo presidente Jair Bolsonaro.

“O uso desses medicamentos, incluindo diversos agentes antivirais e antibióticos, pode levar a alterações na microbiota de pacientes que receberam este tratamento levando a uma quebra de simbiose que pode ser propícia à emergência e disseminação de resistência a múltiplas drogas, ou mesmo ao desencadeamento de outras doenças”, afirma Emmanuel Dias Neto, cientista chefe do Laboratório de Genômica Médica do Centro Internacional de Pesquisas (CIPE) do A.C.Camargo Cancer Center.

Segundo o cientista, a maioria dessas drogas é usada tendo outros patógenos como alvo e, além de não afetarem o Sars-Cov-2 e não terem impacto clínico na COVID-19, podem prejudicar os já desafiantes tratamentos de doenças causadas por bactérias, fungos e outras infecções virais.

“Com drogas frequentemente substituídas por novas opções terapêuticas, o medo de maior resistência a antibióticos é uma realidade”, alerta.

Mas, por que isso ocorre? A resistência microbiana é um fenômeno que ocorre sempre que microrganismos ficam expostos a agentes que são desenhados para destruí-los. Quanto maior o número de microrganismos e quanto mais duradoura for a exposição, maior a chance de surgir resistência.

Isso porque as bactérias que resistem ao tratamento proliferam e causam novas infecções onde o antibiótico antes usado deixa de ser ativo. “Além de tornar mais longas as internações, isso aumenta muito os custos da saúde”, pontua Emmanuel Dias Neto.

O MOTIVO

Haja vista a não comprovação científica do uso de medicamentos para tratar a COVID-19, o uso de fármacos foi feito em demasia para tentar controlar outras infecções causadas pelo vírus. Justamente por isso, os pesquisadores afirmam que a gestão do combate à doença é o grande motivo dessas novas reações, o que deve acelerar a evolução e disseminação de microrganismos resistentes.

Um estudo anterior do mesmo grupo mostrou padrões de colonização microbiana alterados e preocupantes, podendo levar a maior diversidade de reservatórios de genes de resistência antimicrobiana.

“A situação que o mundo tem vivido no último ano despertou a necessidade urgente de encontrar tratamentos efetivos contra a COVID-19. É algo totalmente compreensível e importante. No entanto, muitas vezes, drogas ainda não comprovadas foram anunciadas como a salvação para a COVID-19, até mesmo em um cenário de tratamento precoce/preventivo que, infelizmente, ainda não existe.”

“A ‘propaganda’ destas drogas se amplificou nas redes sociais sendo refletidas no ‘google trends’, pois pessoas desesperadamente buscavam um tratamento. Por algumas vezes até mesmo revistas científicas de alto prestígio erraram ao aceitar estudos que depois não foram comprovados. Nossa contribuição é um sinal de alerta que tais drogas, além de serem inúteis no tratamento da COVID-19, têm o potencial de causar efeitos colaterais longos e sérios no sistema de saúde, e não apenas em indivíduos que receberam a droga naquele momento na tentativa de serem tratados”, afirma o pesquisador.

Os pesquisadores ressaltam, por fim, a importância de todos estarem vigilantes e cautelosos para que a luta contra COVID-19 não cause outras importantes ameaças à humanidade. O ESTUDO

A pesquisa foi uma reflexão de cientistas a partir do estudo da dispersão de microrganismos no mundo e do potencial impacto deles e de genes de resistência a antibióticos na saúde populacional.

“Tais reflexões são fundamentais para pensarmos amplamente nas questões que vivemos e nas consequências da pandemia a longo prazo. Uma das importantes ações do consórcio é avaliar a dispersão também do Sars-Cov-2 nos ambientes urbanos.”

“No A.C.Camargo Cancer Center, em São Paulo, por exemplo, estudamos como o vírus se distribui no hospital e onde ele é mais encontrado. Com isso, temos dados reais de áreas que merecem maior cuidado, e tomamos ações para adoção de protocolos mais frequentes e ainda mais rigorosos, visando um ambiente seguro para os pacientes. Isso é crucial”, afirma Emmanuel Dias Neto.

Segundo ele, um legado fica a partir da pesquisa e demais estudos desenvolvidos sobre o vírus: a ciência como mola propulsora das ações e intervenções.

Fonte: Estado de Minas

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