Reportagem do Portal Sechat revela os desafios das farmacêuticas para viabilizar o cultivo de cannabis em largas escala no Brasil. Entre os obstáculos mais gritantes está a falta de regulamentação do PL 399/2015 que libera o plantio para fins medicinais, veterinários e industriais. A proposta está parada no Congresso Nacional desde 2021.
Para especialidades, outros entraves importantes incluem a necessidade de obtenção de sementes de qualidade, a escassez de profissionais qualificados para essa tarefa, bem como a falta de tecnologias, táticas e insumos que visem à segurança fitossanitária das áreas de produção.
Segundo a agrônoma Aline Negromonte, fatores climáticos também podem ser um empecilho para a indústria farmacêutica, por favorecem a proliferação de pragas e doenças. “Em contrapartida, o clima tropical oferece longos períodos de sol, o que pode ser benéfico para o crescimento da cannabis, especialmente para cultivos que requerem muita luz. Em algumas regiões, é possível plantar ao ar livre durante todo o ano, o que pode reduzir custos com energia e infraestrutura”, explica.
No entanto, ela pondera que é essencial escolher regiões com menos incidência de chuvas intensas e alta umidade para evitar problemas com fungos e outras doenças. “O uso de práticas agrícolas sustentáveis e a implementação de manejo integrado de pragas podem ajudar a transformar esse desafio em uma oportunidade, promovendo um ambiente de cultivo saudável e produtivo”, acrescenta.
Além disso, ainda não foram estabelecidas as regulamentações acerca dos agrotóxicos permitidos na cultura cannabis medicinal, o que evidencia a necessidade de pesquisas agronômicas sobre práticas de manejo. Doutoranda da Universidade Federal de Lavras (UFLA), Aline busca desenvolver técnicas e compreender as demandas únicas do solo e clima brasileiros para mitigar os riscos do plantio de cannabis.
O Grupo de Trabalho de Cannabis da Embrapa também encabeça estudos relacionados ao controle fitossanitário, alertando para a utilização de defensivos naturais e agentes de biocontrole. Atualmente, o Brasil não tem nenhum registro de produto para controle de pragas de cannabis.
Pontos de atenção para o cultivo de cannabis medicinal
- Conformidade regulatória – É crucial que os produtores cumpram rigorosamente as regulamentações sobre normas de cultivo, colheita, processamento e rastreabilidade. Qualquer desvio pode comprometer a licença de operação
- Controle de pragas e doenças – O uso de pesticidas e fungicidas deve ser limitado e cuidadosamente controlado para evitar a contaminação dos produtos finais. O manejo biológico e a aplicação de produtos orgânicos são recomendáveis
- Condições de cultivo – A cannabis medicinal requer condições de cultivo controladas para garantir a pureza e a eficácia do produto final. Isso inclui controle de luz, temperatura, umidade e ventilação
- Pós-colheita e processamento – O manejo pós-colheita é determinante para manter a qualidade dos produtos medicinais. Secagem, cura e armazenamento adequados são etapas críticas para evitar a degradação dos compostos ativos