O diabetes tipo 1 aumenta de duas até 10 vezes o risco de doenças cardiovasculares, dependendo do grau de controle glicêmico. Assim como para o diabetes tipo 2, a doença cardiovascular é também a maior causa de morte para as pessoas com diabetes tipo 1.
Em outras palavras, para aqueles que mantêm os valores de açúcar no sangue dentro das metas ideais (hemoglobina glicada próxima a 7%, ou seja, média de glicose ao longo do dia de 150 mg/dL nos últimos 3 meses) o risco é duas vezes maior de doença cardiovascular em relação a quem não tem diabetes. Mas para os que permanecem com glicose média de 240 mg/dL (hemoglobina glicada de 10%) o risco é dez vezes maior de ter doença cardiovascular.
De acordo com o endocrinologista Fernando Valente, os dados pidemiológicos sobre diabetes e doença cardiovascular são mais abundantes para diabetes tipo 2: dados mundiais mostram que, aos 45 anos, mais de 70% dos homens e 50% das mulheres com diabetes tipo 1 (DM1) têm calcificação nas artérias coronárias, um importante marcador de risco de infarto do coração.
A incidência da doença cardiovascular varia conforme a idade de apresentação do diabetes, a duração da doença, o gênero e a etnia. Para jovens entre 30 e 40 anos de idade e diabetes tipo 1, o risco de doença coronariana é de 1% ao ano (risco intermediário); após os 55 anos, esse risco passa de 3% ao ano (muito alto risco).
“Considerando apenas as pessoas acima dos 30 anos, uma em cada três pessoas com diabetes tipo 1 morre de doença cardiovascular. Em média, os eventos cardiovasculares ocorrem 10 a 15 anos mais cedo em pessoas com diabetes tipo 1 quando comparadas a pessoas sem diabetes”, conta Valente.
Relação do diabetes com doenças cardiovasculares
Diversos mecanismos estão envolvidos na relação DM1 e doença cardiovascular. O diabetes tipo 1 pode provocar rigidez vascular e entupimento das artérias e veias ao longo do tempo por alterar a função das células que revestem internamente os vasos sanguíneos (endotélio) e por facilitar o depósito de gordura nos vasos e a formação de trombos, já que as partículas de colesterol são qualitativamente piores.
O LDL (colesterol ruim) se torna uma partícula mais densa e o HDL (colesterol bom) fica disfuncional, perdendo a sua capacidade anti-inflamatória, o que resulta em maior formação de placa de gordura nas artérias. A elevação do açúcar no sangue e a baixa quantidade de insulina contribuem para causar inflamação nos vasos sanguíneos do corpo todo.
“Com ou sem diabetes, a doença cardiovascular evolui de maneira silenciosa ao longo da vida, até que ocorre um estreitamento significativo do espaço para a passagem do sangue. Em pessoas sem diabetes, a manifestação dessa oclusão vascular é mais clara, com dor aguda e de forte intensidade no peito. Nas com diabetes, a apresentação pode ser atípica, apenas com falta de ar, desconforto torácico ou náusea, sem dor”, explica o médico.
Estudos recentes que mostram que pessoas com diabetes tipo 1 (e não apenas tipo 2) também têm aumento de resistência à insulina quando comparadas às pessoas sem diabetes e que, do ponto de vista cardiovascular, a presença de resistência à insulina no diabetes tipo 1 é um marcador mais forte de risco do que o próprio controle glicêmico.
“Está havendo uma mudança no perfil das pessoas com diabetes tipo 1: não são mais apenas crianças e adolescentes magros. Um terço à metade desses indivíduos está acima do peso e em torno de 80% dos indivíduos com diabetes tipo 1 são adultos. Isso porque quase a metade têm o diagnóstico já na vida adulta, além do fato de que os diagnosticados na infância ou adolescência tiveram o risco de morte por complicações metabólicas reduzido e a expectativa de vida aumentada”, finaliza.