Cloroquina – Entre as dezenas de comunicações do Itamaraty em Genebra, na Suíça, uma delas deixa claro que a indústria farmacêutica mundial já havia abandonado em agosto de 2020 a ideia da cloroquina como tratamento contra a covid-19.
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Numa mensagem enviada pelo órgão em 24 de agosto de 2020, diplomatas revelavam que tinham estado num seminário com a IFMPA (Federação Internacional da Indústria Farmacêutica), a principal entidade que representa o poderoso lado privado do setor farmacêutico.
E as conclusões eram explícitas: o setor precisaria ‘começar do zero’ na busca por tratamento, ‘tendo em conta o insucesso relacionado a alguns medicamentos que teriam despontado como promissores no início da pandemia’. A palestra tinha sido dada por Thomas Cueni, diretor-geral da instituição.
‘Citou, nesse contexto, a hidroxicloroquina -que qualificou de ineficaz’, disse o telegrama sobre o discurso de Cueni assinado pela embaixadora Maria Nazareth Farani Azevedo.
Em telegrama no dia 24 de agosto de 2020, diplomacia brasileira relata evento sobre a ineficácia da cloroquina
Imagem: Reprodução
Entre março e abril de 2020, o governo brasileiro lançava uma operação para buscar insumos para a produção da cloroquina no país e, nos meses seguintes, o próprio presidente Jair Bolsonaro continuou a defender o remédio.
Entre março de 2020 e o início de 2021, quatro medidas federais promoveram ou facilitaram a prescrição do medicamento. O levantamento é do Centro de Estudos e Pesquisas de Direito Sanitário da USP (Universidade de São Paulo) e da Conectas Direitos Humanos.
Imprensa sendo acompanhada
Ao longo de todo o período mais tenso das negociações, uma das funções do Itamaraty foi a de acompanhar as coletivas de imprensa concedidas pela OMS. Em relatos enviados para Brasília, cada detalhe das declarações era reportado. Mas os telegramas também apontam que um dos focos principais era o acompanhamento de eventuais perguntas feitas por jornalistas brasileiros à direção da OMS e o conteúdo da resposta.
No dia 26 de junho, o telegrama relata como ‘a correspondente da Rede Globo na Suíça afirmou que o Brasil não havia aderido à iniciativa ACT quando de seu lançamento’, perguntando se tal situação sofrerá alguma mudança, ‘agora que o país é o epicentro da epidemia’.
No dia 30 de julho, mais um telegrama citaria a pergunta de jornalistas brasileiros na conferência de imprensa. O documento era assinado por Maria Nazareth Farani Azevedo.
No dia 10 de agosto, outro telegrama assinado por ela cita a pergunta feita pela CNN Brasil em coletiva de imprensa sobre cloroquina e como a OMS respondeu que não haveria ‘evidências científicas para uso’.
No dia 13 de agosto, uma vez mais perguntas de brasileiros eram identificados em telegrama. O mesmo padrão continua pelos meses seguintes, com a correspondente da Folha de S.Paulo sendo citada em telegrama do dia 4 de setembro sobre declarações do presidente em relação às vacinas. Três dias depois, outro telegrama aponta que um jornalista perguntou sobre ‘mensagens contraditórias’ dadas por autoridades brasileiras.
Fonte: Classificados D
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