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Asma: A culpa não é da bombinha

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As pessoas que sofrem de asma devem ser tratadas como os pacientes de diabetes ou hipertensão: com medicamentos de uso diário. Porque a exemplo dessas duas doenças, a asma também é uma doença crônica, explica o pneumologista do InCor Rafael Stelmach. O especialista é responsável pela representação brasileira da Iniciativa Global contra a Asma — uma organização não-governamental internacional que promove campanhas de alerta com o objetivo de antecipar o diagnóstico e evitar internações e mortes de asmáticos. Na entrevista a seguir ele explica a origem e características da asma, os medicamentos utilizados no tratamento e como é importante o uso diário dos remédios para manter a doença sob controle.

Referência Incor – Quer dizer que a asma não tem cura?
Rafael Stelmach – Ela não tem cura, mas pode ser controlada. Os medicamentos de uso contínuo recomendados são anti-inflamatórios e broncodilatadores. Os primeiros, à base de corticoide, reduzem a inflamação e mantêm a doença sob controle. Os broncodilatadores, como diz o nome, abrem as vias respiratórias, aliviando a sensação de falta de ar. Os asmáticos mais graves devem usar os dois remédios na mesma bombinha, diariamente. Os casos mais leves de asma são medicados com o uso do anti-inflamatório, diariamente, e de broncodilatador quando necessário.

RI – Mas esse tratamento não representa risco, quer dizer, o uso diário da bombinha?
Rafael Stelmach – Não, não existe isso. Quem mata é a doença, não a bombinha. Isso é um mito que não conseguimos, ainda, derrubar. Nos anos 1950, quando criaram os broncodilatadores e as famosas bombinhas para aplicação, eles não eram seletivos para os pulmões e tinham muitos efeitos colaterais – tinham tremores e muita “batedeira no coração” taquicardíaco. Mas, hoje em dia, os efeitos colaterais são menores e se pode usar a medicação com segurança, exceto se a pessoa tiver uma cardiopatia. E os corticosteroides inalados apareceram e começaram a ser usados somente no final do século XX, há muito pouco tempo. O que acontece é que o paciente toma o broncodilatador só na crise, quando aparecem os sintomas. Passada a crise, ele acha que não precisa usar mais nada, quando precisaria manter o tratamento de manutenção com os corticosteroides inalados. Ou pensa que pode até ser perigoso continuar usando.

RI – Daí vai ter outra crise e outra.
Stelmach – Esse é o problema. Por falta de orientação, geralmente, a maioria não segue essa rotina e só usa a medicação na crise. Mas, durante uma crise a pessoa pode ir parar na UTI e, eventualmente, morrer. A inflamação da asma está sempre presente e piora nas crises, obstruindo as vias aéreas.

RI – Qual a origem dessa doença e porque ela não tem cura?
Rafael Stelmach – A maioria das pessoas que tem asma nasce com alergia respiratória, marca genética de família. Em geral ela se manifesta desde a infância. É uma doença inflamatória, associada à alergia. Em geral, começa com dermatite atópica ou rinite e depois evolui para asma, principalmente se os pais ou avós tiverem asma (ou rinite). E, tendo em vista que é uma marca genética, não conseguimos curar uma pessoa de asma até o presente momento. Mas é possível controlar a doença. O tratamento consiste em combater a inflamação com o uso de anti-inflamatórios tópicos – nasais e pulmonares. O uso desses medicamentos deve ser diário para diminuir ao máximo a inflamação e, também, controlar os sintomas. Essa recomendação inclui as crianças.

RI – Sem esse tratamento contínuo a doença vai se agravando?
Rafael Stelmach – Sem o tratamento de rotina, sim, porque a inflamação acomete as paredes de sustentação das vias respiratórias e também a musculatura dos brônquios, que tem de abrir e fechar a todo o momento para a passagem do ar. É como quando cortamos várias vezes no mesmo lugar e se forma um queloide. No caso dos brônquios, a inflamação recorrente, sem o tratamento adequado, gera um enrijecimento deles, diminuindo a passagem do ar e a capacidade de respirar.

RI – Além do uso contínuo da medicação é possível fazer algo mais para evitar as crises?
Rafael Stelmach – É possível evitar a exposição constante aos agentes que produzem alergia. Esses agentes pioram a inflamação e desencadeiam crises. Manter a casa ventilada e limpa, usar aspirador de pó e pano úmido para limpeza diminuem a exposição. Trocar o lençol de cama, não amontoar coisas no quarto que podem se encher de pó, assim como não dormir com o cachorro ou gato são outras medidas possíveis. Tomar essas providências melhora, mas é impossível controlar a exposição totalmente.

RI – Se a pessoa, por exemplo, vai dormir na casa de alguém que não tem o mesmo cuidado da casa do asmático, pode ter uma crise?
Rafael Stelmach – Sim, pode. E tem essa outra coisa que é frequente de se ver. A pessoa usa o medicamento por um tempo, dois ou três meses, ela fica bem, volta ao médico para uma nova avaliação e é liberada de continuar o tratamento. Essa não é a orientação que recomendo. Porque sem o tratamento continuado a pessoa vai perdendo capacidade respiratória. E, com o tempo, acontece o que chamamos de remodelamento da árvore brônquica – o termo usado na literatura médica internacional –, que é o enrijecimento dos brônquios. É o que a asma faz quando não é controlada. De tantas inflamações, alguns ramos dos brônquios vão fechando em definitivo e o ar não passa mais por ali.

RI – Esses medicamentos para tratamento continuado estão disponíveis no SUS?
Rafael Stelmach – A disponibilidade do corticoide inalatório é muito recente na história da medicina. No Brasil ele começou a ser usado nos anos 1990. No SUS, uma portaria de 2002 deu acesso à medicação nos casos graves. A partir de 2012, porém, as bombinhas contendo as duas medicações (corticoide e broncodilatador) passaram a ser dispensadas de forma gratuita em toda a rede pública.

Fonte: Rede Press – http://referenciaincor.com.br/a-culpa-nao-e-da-bombinha/

Veja também: https://panoramafarmaceutico.com.br/2020/01/24/cancer-novos-tratamentos-reduzem-taxas-de-morte-a-patamares-ineditos/

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