Depois de um susto inicial no começo da pandemia, as startups brasileiras fecharam 2020 fortalecidas: houve recorde de aportes, avanços regulatórios e até novos unicórnios (empresas avaliadas em mais de US$ 1 bilhão). Seguindo esse movimento, 2021 promete ventos ainda melhores para as empresas de inovação, segundo especialistas ouvidos pelo Estadão.
Entre as expectativas para o ecossistema estão o crescimento no número de aquisições e fusões e o aumento de aberturas de capital no setor – no ano passado, houve mais de 140 aquisições no setor, segundo dados do hub de inovação Distrito.
Outro ponto que deve avançar, segundo os especialistas, é o aspecto regulatório: o mercado de startups deve continuar colhendo frutos em 2021 de mudanças como a aprovação da telemedicina e destravamentos no setor de fintechs.
Nos serviços financeiros, também há um horizonte de novas possibilidades com a chegada do meio de pagamento instantâneo Pix e do sistema de open banking, que facilita o compartilhamento de informações financeiras de clientes entre as instituições.
Quanto a setores, espera-se crescimento nas áreas que já se destacaram ao longo dos últimos meses de pandemia, como saúde e educação. Abaixo, seis especialistas em inovação comentam a perspectiva para o mercado brasileiro de startups no ano que se inicia.
‘Novas leis são um novo começo’, diz André Barrence, diretor do Google for Startups
“Haverá um número cada vez mais significativo de saídas, seja com startups sendo adquiridas ou fazendo abertura de capital. Na bolsa, empresas como Méliuz e Enjoei ajudaram a romper o teto de saída. Além disso, teremos novidades a partir de mudanças de regulação, pois novas leis representam um novo começo. Novidades, como o Pix ou o open banking, ajudam a destravar o florescimento de novas startups, bem como a entrada de empresas em novas áreas. É uma corrida: não necessariamente as startups que existem hoje são aquelas que vão fazer o melhor uso das novas possibilidades. Quem ganha é o usuário. Os organismos regulatórios têm plena consciência da sua importância para destravar processos e beneficiar os usuários. Organizações, como o Banco Central, são sólidas e têm a dimensão que as novidades são marcos sem retorno. Sou otimista nesse aspecto.”
‘Toda empresa será fintech em potencial’, diz Rafael Assunção, sócio da consultoria Questum
“Três temas principais serão destaques. O primeiro deles é a “fintechização”. Antigamente, falávamos sobre o software “comer tudo”. Agora, as fintechs é que vão comer tudo. Toda compra ou conta de usuário vai virar uma conta digital. E isso se deve muito às ações do Banco Central, que abriu espaço com o Pix e o open banking. O resultado é que não será mais perceptível a diferença entre, por exemplo, uma empresa de educação e de crédito. Nos EUA, só um terço do crédito vem dos bancos. No Brasil, isso é o futuro. Além disso, veremos mais aberturas de capital do setor e mais fusões e aquisições de startups. Para startups, essa área vai ser o melhor momento de todos os tempos, porque as empresas vão comprar tecnologia para fazer sua transformação digital. Outra palavra fundamental é o 5G: ele vai mudar nossa vida de forma relevante, mas o Brasil precisa resolver isso.”
‘Otimismo com o Marco Legal das Startups’, diz Livia Brando, diretora do hub de inovação Wayra Brasil, da Vivo
“Estamos bastante otimistas em relação ao ecossistema de empreendedorismo e venture capital em 2021. Entendemos que o comportamento do consumidor mudou muito em 2020, e há algumas áreas com um potencial especial de oportunidade, como saúde, educação e serviços financeiros. A forma como a gente busca conteúdo para educação mudou. Também não somos mais atendidos pela medicina do mesmo jeito. Além disso, do lado dos serviços financeiros, houve transformações relevantes como o Pix. Continuaremos colhendo os efeitos dessas mudanças neste ano. Um ponto importante é a evolução do Marco Legal das Startups: esperamos que isso traga benefícios para o ecossistema. Na Wayra, continuaremos buscando startups em fase de tração, para que possamos apoiar e gerar negócios de fato, trazendo soluções não só para a Vivo mas para os clientes da Vivo.”
‘Nova safra de empresas é ótima’ , diz Dennis Wang, diretor do fundo Igah Ventures
“2021 será melhor que o ano passado. Primeiro, porque as empresas já se adaptaram para trabalhar num cenário de pandemia. Segundo, porque com a vacina chegando, a economia tradicional vai ser retomada. E terceiro porque há muita liquidez no mercado. Os fundos captaram nos últimos anos e ainda há muitos capitalizando. E isso bate de frente com uma ótima safra de empreendedores nas empresas que estão em fase inicial de investimento. Há muitos setores com potencial de avançar: saúde e seguros vão ser dois temas importantes. E software também: com as empresas se digitalizando e precisando atender clientes, softwares serão essenciais. Se a economia continuar como está, a janela continua aberta para IPOs de empresas. Acho que vai ser um ano bem agitado para o setor e, mais importante, as empresas vão focar em resolver dores do cliente.”
‘Startups vão querer quem pensa diferente’, diz Luís Gustavo Lima, diretor da empresa de inovação ACE
“Antigamente, toda empresa queria um cara que vestisse a camisa. Agora, toda empresa vai querer um colaborador empreendedor. Aquele que pensa diferente, que não se contenta com o status quo e cria problemas de forma positiva. A competência de inovação vai ser fortíssima com uso de metodologias ágeis. É uma palavra que virou chavão, mas que vai ter de ser vivida na prática, com o cliente no foco. Outra coisa que foi muito falada e a partir de agora vai passar a existir de fato é que as pessoas vão ter outras prioridades no trabalho. Há uma busca por conciliar propósito, impacto e segurança, seja ela financeira ou psicológica. A transição da liderança de comando e controle para uma liderança sensível e empática vai ser muito sentida. Por outro lado, as startups que crescem vão ter que olhar mais para governança, para as coisas chatas, com processos e rituais.”
‘Conexões serão essenciais em 2021’, diz Dani Junco, CEO da aceleradora B2Mamy, focada em mães empreendedoras
“Estamos vindo de um ano em que as mulheres sofreram demais com a pandemia, sobrecarregadas dentro de casa. O sentimento foi de enxugar gelo para nós que estamos liderando essa batalha de diversidade, desigualdade de gênero e impacto social. Porém, estamos otimistas com 2021. Com a promessa da vacina e quando for possível o retorno das escolas, começaremos a respirar novamente e a nos encher de energia. O ano é promissor e esperamos um crescimento em V para negócios de mulheres – principalmente para aqueles que estão conectados a comunidades como aceleradoras, porque nunca fez tanto sentido querer se unir novamente. Vamos precisar de intuição e colaboração como nunca. Aspectos como liderança horizontal e pensamento focado na experiência do usuário serão mais valorizados. Prevejo bonança e abundância para quem souber se conectar de verdade.”
Fonte: MSN
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