Falências de farmácias triplicam no primeiro semestre
Cenário é similar ao dos últimos seis meses de 2024 e compromete sobretudo o varejo independente
por Gabriel Noronha em
e atualizado em


As falências de farmácias seguem rondando a rotina do setor. De janeiro a maio deste ano, chegou a 12 o número de operações decretadas ou requeridas, o que já representa o triplo do volume registrado em todo o semestre imediatamente anterior.
Considerando a somatória geral que agrega também os pedidos de recuperação judicial, o volume aumentou 31% – de 13 para 17 – e atinge especialmente o varejo independente e regional. A seção Falências & Recuperações do Panorama Farmacêutico vem registrando cotidianamente esse cenário preocupante, cujo auge ocorreu em 2024 e se estendeu a outros segmentos da economia.
No ano passado o Brasil registrou o maior número de pedidos de recuperação judicial de sua história, segundo o Serasa Experian, com 2.273 solicitações. O montante equivale a um aumento de 61,8% em relação ao ano anterior e contou com relevante participação do setor farmacêutico, liderado por distribuidoras e pequenas e médias redes varejistas.
“Embora o ambiente econômico estivesse aquecido em 2024, o país enfrenta uma taxa de juros bastante restritiva. Para as empresas que entram em inadimplência e não conseguem reverter essa situação, o instrumento de recuperação judicial auxilia na reorganização e suspende a rota rumo à falência”, comenta Camila Abdelmalack, economista parte do estudo divulgado pela especialista em crédito.
Para algumas empresas, porém, a alternativa acima tem sido insuficiente e a falência desponta como caminho irreversível. E o próprio movimento de consolidação setorial contribui para essa realidade. “À medida que ganham escala, ampliam o mix de serviços e o poder de negociação com a indústria, as redes maiores ocupam um espaço territorial crescente e reduzem as brechas para a concorrência crescer”, analisa Cláudio Felisoni, presidente do Ibevar.
Falências de farmácias refletem enredo que aconteceu no atacado
As atuais falências de farmácias seguem o enredo que ganhou evidência a partir do primeiro semestre de 2024, quando pelo menos dez distribuidoras de medicamentos ingressaram com pedidos de recuperação judicial. Importantes atacadistas como Medibras e Servimed recorreram a esse expediente depois de acumularem passivos de R$ 100 milhões e R$ 693 milhões, respectivamente.
O setor convive com elevada concorrência, aumento de custos operacionais e estreitamento das margens. A retração na oferta de crédito surge como outro agravante. Não só o mercado financeiro, como também as indústrias farmacêuticas, vêm fechando as portas para novos financiamentos. O efeito cascata estende-se ao varejo farmacêutico independente, cuja rotina de alargar os prazos de pagamento vem comprometendo o fluxo de caixa do atacado.