Brasil tem recorde de pedidos de recuperação judicial

Alta de 61,8% em relação a 2023 reflete cenário desafiador para empresas. Mercado farmacêutico foi um dos segmentos mais afetados

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PEDIDOS DE RECUPERAÇÃO JUDICIALFarmácias, distribuidoras, mercado farmacêutico
Foto: Canva

No ano passado o Brasil registrou 2.273 pedidos de recuperação judicial, de acordo com levantamento do Serasa Experian. Foi o mais alto índice contabilizado desde o início da série histórica e que representa um avanço de 61,8% em relação a 2023. E o mercado farmacêutico esteve entre os mais afetados.

“Embora o ambiente econômico estivesse aquecido em 2024, o país enfrenta uma taxa de juros bastante restritiva. Para as empresas que entram em inadimplência e não conseguem reverter essa situação, o instrumento de recuperação judicial auxilia na reorganização e suspende a rota rumo à falência”, comenta Camila Abdelmalack, uma das economistas responsáveis pelo estudo.

Quantidade de recuperações judiciais – últimos 10 anos

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Fonte: Serasa Experian

Pedidos de recuperação judicial de MPEs crescem 78,4%

Na análise de pedidos de recuperação judicial por porte de companhia, a pesquisa apontou um cenário ainda mais preocupante no âmbito das micro e pequenas empresas. Esse nicho puxou a alta das solicitações e totalizou 1.676 pedidos – um aumento de 78,4% em relação a 2023. As médias e grandes corporações foram responsáveis por 416 e 181 demandas, respectivamente.

PEDIDOS DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL
POR PORTE
Setores 2022 2023 2024
Micro e Pequena Empresa 528 939 1.676
Média Empresa 214 331 416
Grande Empresa 91 135 181

Fonte: Serasa Experian

Mercado farmacêutico recorreu à solução em 2024

Recorrer ao mecanismo da recuperação judicial para evitar uma falência e ter fôlego para reestruturar as operações tornou-se uma estratégia comum aos varejistas e distribuidoras do setor farmacêutico em 2024. Foram 34 ocorrências, entre cumprimentos de recuperação judicial, pedidos realizados e deferidos.

Os dados são baseados em um levantamento da seção Falências & Recuperações do portal, a partir de indicadores de fontes do mercado. Grande parte dos pedidos envolve pequenas redes ou PDVs independentes, com exceção das bandeiras do grupo InvestFarma – três unidades da Poupafarma e duas da Drogaria Marcelo, que tiveram seus pedidos de recuperação deferidos no período.

Desde fevereiro do ano passado, quando fechou temporariamente as portas de suas mais de 70 lojas, a varejista com sede na Baixada Santista convive com dificuldades financeiras. A situação forçou a empresa a se desfazer de pelo menos 51 PDVs em Santos e também no Vale do Paraíba e na Região Metropolitana (SP), em um leilão que teve como vencedora as Farmácias Nissei. O grupo paranaense aproveitou a oportunidade para colocar em prática seu plano de expansão no mercado paulista.

Recuperação judicial de farmácias expõe conjuntura setorial e econômica

Para especialistas, a recuperação judicial de farmácias reflete uma conjuntura econômica que mantém oscilante o desempenho do varejo. As tendências de queda na inflação e nas taxas de juros, aliadas ao aumento da empregabilidade, atenuam o cenário, mas a retomada do consumo ainda está distante da realidade.

A despeito de eventuais deficiências na gestão nas pequenas e médias, o próprio movimento de consolidação do grande varejo farmacêutico dificulta a performance das empresas de menor porte. “À medida que ganham escala, ampliam o mix de serviços e o poder de negociação com a indústria, as redes maiores ocupam um espaço territorial crescente e reduzem as brechas para a concorrência avançar”, analisa Cláudio Felisoni, presidente do Ibevar.

Realidade é uma extensão do que acontece em distribuidoras

A atual realidade das farmácias segue o enredo que ganhou evidência especialmente no primeiro semestre, quando pelo menos dez distribuidoras de medicamentos ingressaram com pedidos de recuperação judicial. Importantes atacadistas como Medibras e Servimed buscaram essa alternativa após acumularem passivos de R$ 100 milhões e R$ 693 milhões, respectivamente.

O setor convive com elevada concorrência, aumento de custos operacionais e estreitamento das margens. A retração na oferta de crédito surge como outro agravante. Não só o mercado financeiro, como também as indústrias farmacêuticas, vêm fechando as portas para novos financiamentos. O efeito cascata estende-se ao varejo farmacêutico independente, cuja rotina de alargar os prazos de pagamento vem comprometendo o fluxo de caixa do atacado.

Para Paulo Maia, presidente executivo da ABRADIMEX, associação que representa 15 distribuidoras com foco no mercado de specialty care, o ano de 2024 foi marcado por dificuldades para a manutenção do negócio. “Além do panorama da recuperação judicial, o período também apresentou um movimento inverso ao dos anos anteriores. O ritmo de aquisições deu lugar à venda de ativos para recompor o equilíbrio financeiro”, explica.

 

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