A patente do Ozempic chega ao fim em 2026 e a perda de exclusividade já mobiliza farmacêuticas brasileiras. Importantes laboratórios nacionais iniciaram estudos para produzir versões genéricas do medicamento contra diabetes, que ganhou fama mundial pelo uso off-label para emagrecimento e movimenta cifras superiores a R$ 3 bilhões no país, segundo a IQVIA.
A Novo Nordisk ainda tentou estender a proteção da patente até 2029, valendo-se do artigo 40 da Lei de Propriedade Industrial (LPI). Mas a declaração de inconstitucionalidade dessa norma pelo STF, impondo o prazo-limite de 20 anos a partir da data em que o pedido de análise foi depositado no Instituto Nacional de Propriedade Industrial, abriu os olhos da concorrência.
“A companhia sofreu um encurtamento aproximado de três anos e meio do tempo real de aproveitamento devido à decisão do STF, que também afetou outras patentes farmacêuticas. Com isso, o tempo real de gozo da patente ficou limitado a um período inferior a sete anos”, destacou o laboratório, em resposta a uma reportagem especial da Veja Negócios.
Enquanto isso, a fabricante dinamarquesa colhe os louros com a venda do medicamento. A sua lucratividade totalizou US$ 84 bilhões (R$ 479 bilhões) em 2023 e a tornou a empresa mais valiosa no mercado financeiro europeu. No Brasil, foi o primeiro medicamento a alcançar vendas acima de R$ 1 bilhão. O contexto nacional ajuda. Mais da metade dos adultos brasileiros convive com obesidade ou sobrepeso.
Patente do Ozempic ajuda a criar medicamento bilionário
(vendas em bilhões de R$ no ano passado)
Veja quem está de olho no fim da patente do Ozempic
A patente do Ozempic despertou a atenção das duas maiores farmacêuticas brasileiras. A EMS deverá produzir biossimilares da semaglutida, princípio ativo do Ozempic, na sua nova fábrica aberta em Hortolândia (SP) no último mês de setembro. A operação da planta custará R$ 70 milhões ao laboratório, mas quase 70% dos recursos saíram de um financiamento do BNDES.
A Hypera Pharma também admite publicamente o interesse de ter sua versão biossimilar. “Com a entrada de novos competidores nesse mercado, será possível democratizar o acesso ao tratamento de pacientes que hoje não conseguem adquirir o produto patenteado”, ressalta o CEO Breno Oliveira. Estima-se que, no início de 2025, os testes de bioequivalência sejam apresentados à Anvisa. Até a Cimed já demonstra apetite pelo medicamento. O presidente João Adibe declarou em evento recente que terá uma “canetinha amarela”.
A Biomm, por sua vez, fechou em abril um acordo com a indiana Biocon, o que viabiliza a importação da semaglutida. “Espera-se que similares de GLP-1 que a companhia vai comercializar representem uma participação significativa no mercado de produtos para doenças metabólicas”, observa o diretor financeiro Renato Arroyo.
Enquanto as brasileiras iniciam movimentações, companhias estrangeiras partem para as vias de fato. A norte-americana Nexus Pharmaceuticals produzirá o genérico do Ozempic no interior paulista, em sua nova fábrica no Parque Tecnológico de Sorocaba. As obras do complexo deverão começar ainda em outubro, com aporte inicial de R$ 20 milhões. Em até dois anos, outros R$ 40 milhões deverão ser investidos nas linhas de produção.