Gangorra política estressa o mercado

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Pelo segundo dia consecutivo, o mercado financeiro sentiu os abalos políticos de Brasília. Em uma sessão marcada pela tensão e incerteza, o Ibovespa encerrou a terça-feira com alta de 0,65%, com 111.330 pontos. Após o baque de segunda-feira, quando a bolsa sofreu uma queda de quase 4% em razão da anulação, pelo Supremo Tribunal Federal, dos processos referentes ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o humor dos investidores variou de acordo com as notícias provenientes do Planalto Central.

Pela manhã, o nervosismo tomou conta do mercado por causa do risco de a Câmara dos Deputados, a pedido do presidente Jair Bolsonaro, desidratar a PEC Emergencial, excluindo os servidores da Segurança Pública das restrições fiscais impostas ao orçamento no contexto da pandemia. Mas a declaração do deputado Daniel Freitas (PSL-SC), relator da PEC na Câmara, de que o texto da proposta a ser levado ao plenário será “exatamente o que veio do Senado” tranquilizou os investidores e revigorou o pregão. Contribuíram ainda para o dia positivo na Bolsa os resultados no exterior, com ganho de 3,69% no Nasdaq e de 1,42% no S&P 500. Apesar do desempenho de ontem, a bolsa segue amargando perdas. Na semana, o Ibovespa acumula queda de 3,36%, limitando o ganho a 1,18% no mês — em 2021, a bolsa brasileira caiu 6,46%.

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Para o economista e sócio da G2W investimentos Ciro Almeida, fatores como a falta de orçamento para este ano, o relaxamento do ajuste fiscal e a volta da polarização, com a possível candidatura do ex-presidente Lula, deixam os investidores inseguros. “O mercado trabalha com previsibilidade, e isso não acontece com o Brasil neste momento. Ainda é preciso ressaltar que o ‘liberalismo intervencionista’ de Bolsonaro espanta os investidores, que têm visto uma nova face do presidente”, ressaltou o especialista.

“A possibilidade de uma eleição polarizada, de novo, desestabiliza, principalmente, a confiança e a previsibilidade do mercado quanto à retomada do crescimento econômico do país. Bolsonaro tem mostrado uma agenda liberal intervencionista que não aponta muita preocupação com o ajuste fiscal, o que pode levá-lo a adotar medidas populistas, podendo prejudicar ainda mais a trajetória brasileira”, alertou Almeida. Não faltam números para preocupar os analistas econômicos. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) caminha para quase 5%, devendo superar o teto previsto, pressionado por uma contínua alta de derivados do petróleo. O mesmo se espera da taxa Selic, que pode sofrer alta com a elevação do risco fiscal e de piora da inflação.

Dólar a R$ 6No mercado de câmbio, o dólar comercial encerrou o dia a R$ 5,797, com alta de 0,33%. Já o dólar turismo ultrapassou o patamar de R$ 6 e foi negociado a R$ 6,43 em casas de câmbio de São Paulo.  Ciro Almeida previu novas altas. “A gente pensa que não, mas quem sofre com isso é a população de maior vulnerabilidade, pois com essa série de aumentos, os produtos consumidos por ela também aumentam, principalmente a cesta básica”, ressaltou.

Outros analistas reforçam a ideia de que a política ainda afetará muito os nervos dos investidores, com reflexos no mercado financeiro e na economia em geral. “O mercado está ainda um pouco grogue, fazendo pausa para respirar. Tudo que não se queria para 2022 era a polarização entre Lula e Bolsonaro, com o Centro enfraquecido — mas é o que parece estar se desenhando. Vai haver volatilidade, mas com juros reais perto de zero ou negativos, o custo de oportunidade continua muito pequeno, ainda que a Selic venha a subir a partir da semana que vem, gradualmente como se espera”, avaliou Rodrigo Knudsen, gestor da Vitreo. Ele prevê aumento de 0,50 ponto porcentual na taxa básica de juros na reunião do Comitê de Política Monetária. “Ainda há tempo para o governo fazer reformas, mesmo na pandemia”, acrescentou.

“Com Lula elegível, o risco é a antecipação do calendário, com medidas eleitoreiras já em 2021, o que seria um problema. Precisamos ver como esse risco eleitoral antecipado fará o governo ‘performar’ daqui em diante. Não vejo espaço para Lula aparecer muito agora, nem creio que seja de seu interesse”, concluiu Knudsen.

Com Agência Estado. * Estagiária sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza

Ajuste pode render economia de R$ 150 bi

A economia potencial prevista com as medidas de ajuste da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que autoriza uma nova rodada de auxílio emergencial é de R$ 150 bilhões em 10 anos para União, estados e municípios. Para os cofres do governo federal, seriam poupados R$ 34,3 bilhões em uma década, valor inferior ao limite estipulado de R$ 44 bilhões para a nova rodada do benefício.

Os cálculos são do diretor de estratégias públicas da MAG, Arnaldo Lima. “A economia potencial de gastos na União é inferior à extensão do auxílio emergencial, que passa a ser essencial para a proteção da população mais vulnerável, especialmente diante da segunda onda e das medidas de lockdown”, disse Lima, ex-secretário- adjunto de Política Econômica no Ministério da Fazenda e diretor de Políticas Fiscais e Sociais no antigo Ministério do Planejamento. Para os estados, ele calcula economia de R$ 54,7 bilhões e, para os municípios, de R$ 60,9 bilhões.

Até agora, nem o Ministério da Economia nem o senador Marcio Bittar, relator da PEC no Senado federal, apresentaram dados com o ganho caso os gatilhos sejam acionados. Eles são considerados o coração da PEC para a equipe econômica, que trava uma queda de braço contra o próprio presidente Jair Bolsonaro e parlamentares para que essas contrapartidas não sejam desfiguradas na votação da Câmara e pela manutenção do valor de R$ 44 bilhões de gastos com o pagamento do auxílio.

O maior ganho potencial de R$ 92,9 bilhões é justamente a trava para promoções nas carreiras. O congelamento dos salários por mais dois anos daria uma economia de R$ 56,9 bilhões nas três esferas de governo. Com apoio do próprio Bolsonaro, há um movimento para desidratar a potência dos gatilhos, blindando as categorias de forças de segurança especialmente. Outros servidores também querem ficar fora do alcance do ajuste.

Nos estados e municípios, a PEC já prevê um acionamento de gatilhos facultativo, quando as despesas correntes chegarem a 95% das receitas correntes. O governador e o prefeito que não acionarem essas medidas de contenção de gastos não poderão receber aval do Tesouro Nacional para novos empréstimos.

Segundo Lima, o mercado vai olhar com lupa a possibilidade de aprovação do congelamento da progressão automática de salários no primeiro momento e a reforma administrativa, no segundo momento. “Sem essas medidas, o teto dos gastos não terá sustentabilidade”, pontuou o especialista.

Fonte: Correio Braziliense

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