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O efeito do dólar alto na economia

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Na virada de 2019 para o início de 2020, o dólar tem batido recordes nominais seguidos. Se em novembro de 2019 a cotação da moeda americana estava na casa dos R$ 4,25, no início de março já estava no patamar dos R$ 4,65.

RECORDES NOMINAIS

A cotação do dólar que atinge recordes é a nominal. Isso significa que não estão contabilizados nesse valor os cenários de inflação do Brasil e dos EUA. A cotação real do dólar, portanto, leva em conta o poder de compra da moeda americana no Brasil.

Apesar do recorde nominal atingido pelo dólar no início de 2020, em outros momentos a cotação real da moeda americana esteve mais alta. Entre 2001 e 2003, por exemplo, no momento de transição do governo de Fernando Henrique Cardoso para Luiz Inácio Lula da Silva, o valor real esteve consistentemente acima do nível de janeiro de 2020.

EVOLUÇÃO REAL

A alta do dólar ocorre em um momento de incerteza no cenário internacional em decorrência da epidemia do novo coronavírus. Nos primeiros dias de março, o número de infectados no mundo inteiro ultrapassou 100 mil – em 6 de março, as vítimas fatais eram mais de 3.400. Os temores com relação à disseminação da doença derrubaram mercados pelo mundo e levaram investidores a buscarem ativos considerados seguros, como ouro e títulos do tesouro americano.

No cenário interno, o quadro é marcado pelo baixo ritmo de recuperação da economia brasileira – conforme evidenciada pelo crescimento de 1,1% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2019. O baixo patamar da taxa básica de juros é outro elemento que compõe o contexto econômico do Brasil no início de 2020. Além disso, há incerteza política diante de embates entre o presidente Jair Bolsonaro e o Congresso Nacional.

O Nexo explica abaixo como a taxa de câmbio pode afetar não só o bolso de quem viaja ao exterior, mas de quem não sai do país.

O mercado de câmbio
Em países onde o câmbio opera em regime flutuante, como o Brasil, o mercado de câmbio funciona de forma similar a outros mercados: o preço da moeda estrangeira é definido pela dinâmica de oferta e demanda do produto.

Dessa forma, se há uma procura muito alta pelo dólar ou o momento é de escassez da moeda no mercado, a tendência é que o preço – a chamada cotação – aumente. Da mesma forma, se a demanda pelo dólar está em baixa ou a oferta está muito alta, o esperado é que a cotação caia.

Além dos agentes habituais, como compradores e vendedores da moeda, o mercado de câmbio conta com outro ator importante: o Banco Central. A autoridade monetária do país pode entrar em ação, comprando e vendendo dólares, de acordo com aquilo que entende como uma necessidade do momento. Normalmente, o Banco Central age para conter variações muito bruscas do dólar, utilizando suas reservas internacionais para intervir no mercado.

Fatores que influenciam o câmbio
CONTAS EXTERNAS

As contas externas consistem basicamente no saldo de todos os dólares que entram e saem do país. O chamado balanço de pagamentos computa desde exportações e importações até os investimentos externos feitos no Brasil. Esse saldo influencia o câmbio ao mostrar como variou a disponibilidade de dólares no mercado nacional. Se mais dólar entrou do que saiu, a oferta de moeda americana aumenta e a cotação tende a cair, e vice-versa.

JUROS

Os juros de um país são importantes para demarcar quanto um investimento irá render no local. Se os juros brasileiros estão mais altos, por exemplo, isso significa que uma aplicação terá um rendimento mais alto aqui do que em países com juros mais baixos. Assim, o patamar dos juros ajuda a atrair ou não dinheiro de fora, servindo de base para as projeções de rentabilidade de investimentos.

INFLAÇÃO

A inflação influencia apenas o câmbio real – isso por determinar se a cotação nominal do dólar realmente irá alterar seu poder de compra. Se todos os preços subirem no Brasil na mesma proporção da elevação na cotação nominal do dólar, a moeda americana não terá ganhos reais, apesar da valorização nominal.

Os efeitos sobre a exportação
O primeiro efeito direto do dólar alto que aparece é o aumento dos custos para quem viaja ao exterior. Desde as passagens de avião, cujos preços costumam ser pautados pelo dólar, passando pelos preços de estadia, até gastos com comida e compras. É o caso das viagens à Disney, citadas pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, em seu comentário sobre empregadas domésticas. De forma pejorativa, ele disse, em fevereiro, que elas viajavam diversas vezes ao exterior quando o câmbio estava baixo.

Mas os impactos do dólar sobre a economia e o bolso dos brasileiros não se limitam a quem viaja para fora do país. O câmbio faz a diferença para quem faz negócios com empresas no exterior e pode ecoar para toda a população brasileira.

Quando o real se desvaloriza – e, logicamente, o dólar fica mais caro –, isso faz com que produtos brasileiros fiquem mais baratos no mercado internacional.

Se nos primeiros dias de 2019 100 dólares compravam, por exemplo, 386 unidades de um produto que custa um real, um ano depois essa mesma quantia comprava 402 unidades. A desvalorização cambial, portanto, barateou esse produto aos olhos do comprador estrangeiro.

O real mais barato perante o dólar, portanto, tem como efeito atrair o mercado internacional e estimular as exportações brasileiras. Mas, para isso ocorrer, é necessário que haja demanda pelos produtos.

Além do câmbio, as exportações dependem dos preços específicos de cada um dos produtos no mercado internacional. É possível, por exemplo, que o preço de uma mercadoria suba a ponto de anular os efeitos do câmbio sobre o preço.

Se, por exemplo, o dólar dobra de valor na mesma época em que há uma praga em plantações de algodão, o preço do produto dobra em todo o mundo. Nesse caso, o preço do algodão não sofreu variações reais. Ou seja, não ficou mais baixo para o comprador estrangeiro – nem mesmo com o câmbio alto.

Além disso, as exportações dependem de compradores. Quando a economia do país importador está em desaceleração ou recessão, a demanda por produtos externos cai, afetando os países que vendem esses bens.

No cenário de epidemia de coronavírus do início de 2020, a expectativa de economistas e órgãos internacionais é que a doença esfrie a economia global. Assim, a tendência é que o ritmo do comércio internacional caia e a demanda por produtos brasileiros também seja arrefecida. Neste caso, nem mesmo o câmbio alto pode ser capaz de estimular a compra de produtos brasileiros no exterior.

Os ecos sobre a economia
Se, de fato, o câmbio alto levar a um aumento nas exportações, isso beneficia as empresas do setor exportador. Com maiores receitas, elas podem decidir aumentar a produção, investindo mais e empregando mais pessoas.

Os produtos mais exportados pelo Brasil são majoritariamente commodities – produtos com pouco valor adicionado, resultados de atividades de extração ou agropecuária. É possível que esses setores contratem mais pessoas. Esses setores, porém, tendem a contratar menos pessoas do que a indústria de transformação – a indústria extrativa e a agricultura se encaixam naquilo que economistas chamam de atividades pouco intensivas em trabalho.

De toda forma, se há aumento no nível de emprego como resultado indireto do aumento do câmbio, o efeito dominó positivo pode seguir ecoando para o resto da economia. Os novos empregados podem consumir mais produtos, fazendo circular ainda mais o dinheiro pela economia.

Todo esse processo de aquecimento da economia depende, porém, de que o aumento nas exportações leve a um aumento de investimento e gastos pelos empresários do setor. Assim, não há garantias de que as empresas irão recolocar os ganhos advindos do aumento do dólar na economia.

Como funciona uma exportação
Quando uma empresa no Brasil exporta um produto ao exterior, ela pode receber o pagamento em reais ou em moeda estrangeira. Quando a transação é feita em moeda estrangeira e o recurso é ingressado no Brasil (o exportador pode manter o dinheiro no exterior), é necessário que seja feita uma operação de câmbio. Isso significa que será feita uma conversão da moeda estrangeira para reais antes de o dinheiro de fato circular na economia – afinal, a economia brasileira opera no dia a dia apenas com reais.

Para que seja feita essa conversão, as partes que fecharam o negócio contam com o intermédio de uma instituição financeira. Essa instituição deve ter autorização do Banco Central para operar no mercado de câmbio.

Junto com a instituição, as partes fecham um contrato de câmbio que define os valores exatos com base em uma cotação. Apenas após toda a operação é que o dinheiro passa a circular de fato na economia.

De forma semelhante, ocorre um processo reverso no caso das importações. As transações que envolvem diferentes moedas, portanto, sempre passam por algum intermediário autorizado pelo Banco Central.

Os efeitos sobre a importação
Os efeitos que o dólar alto pode causar sobre a importação são praticamente todos análogos ao caso da exportação – mas, obviamente, vão no sentido inverso. Se a alta do câmbio pode estimular as exportações, ela também pode fazer cair as importações.

O dólar alto encarece as compras no exterior para todo mundo no Brasil. Isso vale tanto para o jovem que compra um celular americano pela internet como para o produtor que precisa de uma máquina ou uma mercadoria específica para conduzir seu negócio.

Com produtos vindos do exterior mais caros, pode ser que empresários que dependem muito de importações diminuam suas operações, ou até fechem as portas. Isso pode deprimir os setores da economia que usam muitos insumos estrangeiros, reduzindo o investimento e o emprego, e ressoando negativamente na economia.

O repasse aos preços
Além de desestimular os setores que dependem de produtos importados, o câmbio alto pode levar a um aumento nos preços. Isso porque produtos importados ou que dependem de máquinas e insumos vindos do exterior podem ser pressionados.

Um exemplo simples é de um padeiro que usa um tipo de farinha que só é possível comprar no exterior. Nesse caso, ele não tem opção senão comprar o produto mais caro. Assim, seus custos aumentam e ele pode escolher elevar o preço do pão para compensar esse movimento.

É recorrente que altas no câmbio impactem a inflação brasileira, comumente medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). Em 2015, por exemplo, quando o aumento dos preços ficou em 10,67% no ano, a disparada do câmbio foi responsável por 1,57 ponto percentual da inflação anual, de acordo com cálculo do Banco Central. O dólar iniciou aquele ano a R$ 2,69 e fechou a R$ 3,90.

O cenário inflacionário de 2020
No começo de 2020, mesmo com a valorização considerável do dólar, ainda não há pressão inflacionária significativa no Brasil. Isso porque a decisão de preços sempre passa pelos empresários, e alguns ainda esperam antes de repassar o aumento de custos aos consumidores. Por ora, eles recorrem a estoques para evitar o aumento nos preços.

Ainda não se sabe qual será o efeito exato da alta do dólar sobre a inflação em 2020. No fim de 2019, quando a cotação do dólar já atingia recordes nominais, Paulo Guedes minimizou os impactos do câmbio alto na economia.

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Fonte: NEXO

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