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Startups da saúde: conheça as oportunidades e desafios

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Raio-X da saúde digital no Brasil: onde estão as oportunidades e quais são os maiores desafios?

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De um lado, prontuários em papel, acompanhamento presencial e dificuldade de acesso às informações do paciente. Do outro, inteligência artificial, telemedicina, testes genéticos e diagnósticos por videoconferência. O mercado de saúde vive um momento único de transição, em que a ineficiência dá lugar à tecnologia; o papel é substituído pelo digital e as camadas de burocracia e lentidão do setor são rompidas pela disrupção.

Para lidar com um mercado tão grande — em oportunidades e desafios — a Lei de Moore é infalível. A disrupção tem acontecido, em alta velocidade e com força exponencial. O fácil acesso às tecnologias digitais, a queda vertiginosa nos custos da inovação e o potencial multifuncional de tecnologias que já estão no nosso bolso tornam essa transformação ainda mais rápida e impetuosa.

O mercado de saúde digital ainda é relativamente recente no mundo. A primeira aceleradora focada em startups de saúde surgiu nos Estados Unidos apenas em 2010 e no Brasil em 2015. Mas já é possível observar o impacto que essas primeiras sementes plantadas têm na construção de um ecossistema mais forte e consolidado que leve a inovação a um novo patamar — trazendo o chamado “futuro da saúde” para mais perto de nós.

Os problemas que abrem espaço para oportunidades
No empreendedorismo, a lógica sempre é inversa: quanto maior o problema, maior a oportunidade de negócio. Se essa equação estiver correta, não existe setor mais fértil para se empreender do que o de saúde. Além das lacunas do serviço público — preenchidas por scale-ups como o dr.consulta — existem oportunidades de negócio presentes na borda de grandes companhias — hospitais, seguros de saúde, indústria farmacêutica e laboratórios, por exemplo.

É possível contribuir com o ganho de eficiência nos processos-chave dessas organizações, resolvendo problemas como:

Gestão da cadeia de suprimentos, logística e operação
Comunicação e relacionamento entre fornecedores, clientes, parceiros e pacientes
Estruturação de processos mais enxutos e eficientes
Inteligência de mercado gerando dados que levem a insights
Gestão da qualidade e minimização de desperdícios
Mensuração dos resultados em tempo real para tomada de decisão mais ágil.
Além disso, Fernando Cembranelli, fundador do Health Innova HUB, aponta duas vantagens para as startups do setor: a possibilidade de nascer global, utilizando tecnologias produzidas regionalmente para resolver grandes problemas de saúde, e ainda, a transição de um modelo de mercado baseado em serviços — hospitais e clínicas, por exemplo — para um modelo de desenvolvimento de produto e tecnologia própria — aplicativos e equipamentos médicos.

Para conduzir essa transformação, existe um grupo de empreendedores com perfil bastante específico para esse segmento. São profissionais de saúde como médicos, biólogos e veterinários que enxergam a oportunidade de transformar a pesquisa científica em um negócio real. A verdadeira motivação desses empreendedores é mais ligada à oportunidade e ao propósito do que à necessidade e às razões financeiras. Quem empreende na área de saúde, costuma ter um nível de persistência acima da média, tanto pela tolerância ao risco, quanto pelo ímpeto de deixar de lado uma carreira bem remunerada para mudar o status quo daquele mercado.

Barreiras para escalar
A primeira delas, apontada por Fernando, é um desconhecimento dos investidores sobre o setor de saúde. A especialidade técnica das inovações e a insegurança jurídica decorrente de um mercado extremamente regulado tornam mais difícil o fluxo de capital no setor. E sem capital, falta combustível para crescer.

Além disso, o ecossistema é muito novo no Brasil. Se a primeira aceleradora surgiu em 2015, significa que a primeira geração de empreendedores de saúde digital está sendo formada agora. Antes de planejar a estratégia de crescimento, montar um modelo escalável ou buscar mais parceiros, a maioria dos negócios está vivendo o período de validação do modelo, entendendo como monetizar, mapeando os players do mercado, encontrando as ameaças ao próprio negócio e testando suas hipóteses na sua própria cadeia de valor.

Porém, o ponto mais crítico na perspectiva de Fernando Cembranelli para se formar um ecossistema de saúde digital no Brasil é a desconexão do mercado com a produção científica das universidades. Fernando conta que essa mudança de paradigma aconteceu nos Estados Unidos, na década de 1970.

Dois pesquisadores da Universidade de Stanford, Bob Swanson e Herbert Boyle, desenvolveram a tecnologia do DNA recombinante. Por meio dela, uma bactéria pode criar uma proteína humana — insulina, hormônio e anticorpos, por exemplo. Assim, um paciente com diabetes tipo 1 poderia repor a insulina do organismo criada artificialmente. Essa descoberta abriu caminho para o surgimento da biotecnologia.

A ideia era tão revolucionária que originou a Genentech, uma empresa criada em 1980, mas que só teve seu produto aprovado em 1985, depois de um longo debate sobre a patente. Na época, o dilema estava em associar a criação de um organismo vivo modificado a um dono, um criador.

Quais seriam os novos limites definidos após essa descoberta? Essa seria uma atitude ética? Estava dentro da lei? Perguntas como essas, que até hoje permeiam os debates científicos, construíram a base da biotecnologia. E sobre a luta de Bob e Herbert, o desfecho foi positivo: eles ganharam o direito à patente, dividindo o valor adquirido entre a Universidade de Stanford, o departamento de pesquisa e os próprios pesquisadores. Até hoje, ela já rendeu mais de $350 milhões de dólares à Universidade que utiliza esse capital para financiar novas pesquisas, criando um ciclo virtuoso de geração e aplicação de conhecimento.

Essa história comprova como existe uma oportunidade de geração de riquezas que não é bem utilizada pelas universidades brasileiras. Todos os remédios mais modernos que existem são baseados em tecnologia. Mas, na prática, nós não temos processos estruturados de transferência de tecnologia entre a universidade e o mercado. “O profissional de saúde que deseja empreender, acaba saindo da faculdade e começando sem apoio nenhum. Perde-se aí a oportunidade de se criar um ciclo virtuoso.”

Para complementar esse cenário, Fernando comenta que não existe uma infraestrutura jurídica para lidar com as questões de inovação na área da saúde. Quando a ideia nasce na universidade, não há um caminho jurídico claro para entender como tirá-la de lá e colocá-la no mercado. Os acordos chegam a demorar um ano para serem fechados, o que impacta na velocidade de desenvolvimento do produto, em um ciclo muito mais lento do que o de outros setores.

Por fim, o principal gargalo a ser superado para o mercado de saúde digital se desenvolver é relacionado à mudança de paradigma de médicos, pacientes e outros agentes-chave do ecossistema. Um exemplo dado por Fernando é a startup Omada Health que realiza tratamentos digitais para doenças crônicas como diabetes tipo 2 e problemas cardíacos. Por meio de programas semanais de acompanhamento e mudanças de comportamento, utilizando ferramentas digitais e coaches especialistas, a companhia consegue combater a obesidade e o impacto das doenças crônicas em seus pacientes.

Isso significa uma transformação em diversas dimensões: na visão do que é um tratamento médico, no papel dos profissionais de saúde e, principalmente, na relação do paciente com a saúde que passa de ser pontual para ser contínua e preventiva.

Diferente de outros setores, o crescimento de uma empresa do setor de saúde também está relacionado à legitimidade científica que ela obtém. Esse fator chega a afetar até o valuation da companhia. Mesmo que ela tenha apenas 5 clientes, se já foi comprovado por meio de dados e pesquisas científicas que os resultados prometidos com o produto ou serviço são válidos cientificamente, a valoração da companhia pode ser muito maior. Por isso, Fernando acredita que ter um board científico, nas startups com foco terapêutico, é fundamental para construir a reputação da empresa sob os olhos de investidores e potenciais parceiros.

Exemplos de um ecossistema ainda em formação
Se as listas de tendências sobre o futuro da saúde parecem distantes de nossa realidade, algumas startups brasileiras são a prova de que a mudança já está bem próxima.

Alguns exemplos são:

Gesto: de serviços médicos a Software as a Service

Fundada pela Empreendedora Endeavor Fabiana Salles, a Gesto usa os dados para escolher os melhores planos de saúde, negociar melhores taxas e prazos, além de gerenciar o custo que as empresas têm com a saúde dos funcionários –isso reduz de 8% a 25% o segundo maior custo delas. Além disso, a Gesto se propõe a cuidar melhor da saúde dos profissionais, garantindo que, quando eles precisarem, sejam atendidos da melhor maneira.

Magnamed: equipamentos de emergência para hospitais

Em 2005, os Empreendedores Endeavor Tatsuo Suzuki, Wataru Ueda e Toru Kinjo começaram produzindo ventiladores pulmonares, que oferecem suporte mecânico ao sistema respiratório. Acabaram criando uma plataforma tecnológica nova, num bloco único. Eles desenvolveram um equipamento mais compacto, mais seguro, com custo menor de produção e, justamente por isso, conseguiram fabricar um equipamento mais confiável e com preço mais baixo.

Hoje, o futuro é promissor: a previsão de crescimento é de pelo menos 50% ao ano, chegando em 2018 faturando cerca de R$ 150 milhões – dez vezes o que faturou em 2014. Dentro de dois anos, provavelmente terão que a procurar outro local para instalar uma fábrica maior.

Dr.Consulta: clínicas populares mais rápidas que o público e mais baratas que o privado
Depois de anos em bancos de investimento, grandes empresas e depois como sócio de um grande fundo, Thomaz fez cursos na Universidade de Chicago e Harvard Business School, até voltar ao Brasil preparado para enfrentar o desafio da saúde no país. Sua solução era prover um serviço que fosse tão ou mais eficiente que o sistema privado, porém acessível à população de baixa renda. Em 2011, o primeira centro médico do Dr. Consulta estava operante, validando seu modelo, na favela de Heliópois, em São Paulo.

O Dr. Consulta é a primeira rede médica de baixo custo e alta qualidade focada na base da pirâmide. Para o futuro, o plano é que o número de centros médicos em São Paulo chegue a 100, com capacidade para atender 3 milhões de pacientes anualmente, até 2018.

Fortalecendo o ecossistema
Ao analisar o ecossistema de empresas de saúde digital no Brasil, Fernando acredita que estamos vivendo ainda os primeiros capítulos. “Existem grandes exemplos de empreendedores e startups a serem descobertos, mas o ecossistema precisa se fortalecer primeiro.”. É preciso, antes de tudo, reunir o ecossistema que já existe, mas está disperso, conectando mentores e especialistas para auxiliar os empreendedores nos desafios de crescimento; criando pontes entre grandes corporações e startups e disseminando exemplos de empreendedores que estão revolucionando o setor, mesmo com todas as barreiras encontradas.

Com esse objetivo nasceu o Eurofarma Synapsis, um programa de aceleração criado em parceria com a Endeavor, que vai apoiar 12 empresas em fase de scale-up que terão acesso a conexões com executivos da Eurofarma, mentorias com a rede Endeavor e networking com empreendedores em estágios semelhantes.

Essas empresas devem estar em fase de crescimento, no momento certo para dar um grande salto de desenvolvimento, ter um modelo de negócios inovador e comprovado pelo mercado e serem lideradas por empreendedores que sonham grande e têm uma visão transformadora sobre o seu setor.

O programa tem duração de 7 meses e se baseia em 4 pilares:

1. Aceleração: acompanhamento de um mentor/padrinho especialista no maior desafio de crescimento do seu negócio;

2. Networking: troca de experiências com uma comunidade de empreendedores que estão à frente de scale-ups e que se ajudam mutuamente a vencer desafios

3. Conexão Eurofarma: Apoio direto de executivos e conexão com especialistas e unidades de negócios sinérgicas da Eurofarma.

4. Acesso ao mercado e oportunidade de negócios: oportunidade de desenvolver negócios com a Eurofarma com aplicação da solução internamente ao grupo e também junto à parceiros e mercado.

Se você se identificou com a proposta ou conhece um empreendedor do setor que se interessaria, indique o programa e faça a inscrição. Essas são as primeiras sementes que podemos plantar para cultivar o ecossistema de saúde digital no país.

Fonte: Pequenas Empresas e Grandes Negócios

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