Com plenas capacidades de ter uma produção de vacinas nacionais mais robusta, o Brasil ainda depende excessivamente do mercado externo. Essa é a visão do presidente da União Química, Fernando de Castro Marques. Em entrevista ao UOL, ele defendeu a indústria privada e nacional de imunizantes.
Para o executivo, esse é um canal que se encontra fechado para as indústrias privadas. Ele vai ainda mais longe e diz que há um “monopólio” de instituições como a Fiocruz e o Instituto Butantan.
“Vacina no Brasil é um monopólio de duas empresas, praticamente: Instituto Butantan e Fiocruz. Se o governo quiser que tenha produção local de vacina no Brasil, ele tem que apoiar a produção da iniciativa privada. A consequência é uma dependência externa desnecessária. O que é lamentável”, afirma.
Em nota enviada à reportagem, o Butantan se defendeu, afirmando ser referência internacional na produção de vacinas e que sua atuação garante a autossuficiência do país nos imunizantes contra Influenza.
Procurada, a Farma Brasil não enviou um posicionamento até a publicação desta matéria.
Mercado nacional já produz vacinas internacionais
Em um cenário de dependência de vacinas internacionais, até aquelas produzidas por aqui tem um dedinho estrangeiro. É o caso do imunizante Sputnik V, contra a Covid-19.
Por aqui, a produção ficou ao cargo da União Química, que afirma ter fabricado aproximadamente dois milhões de unidades. Só que, no Brasil, ninguém foi imunizado com elas.
A Anvisa não autorizou a aplicação da Sputnik V, o que a levou a ser comercializada para seu país de origem, a Rússia, e redirecionada a outros destinos.
“Perdemos [dinheiro], é lógico. Mas o importante é que conseguimos fazer uma coisa muito fora da curva: assimilar e produzir a tecnologia da Sputnik no território brasileiro”.
Escassez de profissionais na Anvisa é outro entrave
Outro ponto destacado pelo presidente da União Química é que, devido à escassez de profissionais técnicos na Anvisa, a agilidade nas análises de projetos é prejudicada.
Marques também afirma que, um medicamento desenvolvido no exterior, por já ter o aval de outras agências regulatórias, enfrenta menos burocracia e acaba aprovado antes dos nacionais, que podem esperar anos pela aprovação.
“Acaba sendo dois pesos e duas medidas. O Ministério da Saúde precisava arrumar mais técnicos para colocar na Anvisa”, completa.