A venda de OTC no Brasil caminha bem, mas nem tanto quando comparada ao desempenho da categoria na América Latina. Esse segmento cresce no país abaixo da média da região e a performance é inferior à de outros mercados estratégicos no continente. É o que aponta um estudo da Kantar.
De acordo com o levantamento, a cesta de OTC adicionou 5,8 milhões de novos lares latino-americanos nos últimos dois anos. Em valor, apresentou incremento de 18% na região nos últimos 12 meses até março de 2024. O Brasil, no entanto, teve avanço de apenas 13%, contra 36% da Colômbia e 19% do México.
Na avaliação por subcategoria, os indicadores relativos a suplementos e multivitamínicos parecem sinalizar como o mercado nacional está na contramão. A participação desses itens nas vendas de OTC chega a 32% na América Latina. O percentual do México é de 38%, enquanto Colômbia e Equador alcançam índices de 71% e 69%, respectivamente. Já no Brasil, o share não passa de 9%.
“Apesar de mais populoso, o Brasil está avançado no painel de OTC, mas ainda dependente de analgésicos para seu desenvolvimento. Isso significa que há potencial a ser explorado, principalmente em multivitaminas”, comenta Roberta Forte, gerente sênior da Kantar.
Venda de OTC na América Latina (crescimento por país + share por categoria)
Segundo a executiva, quando se fala em penetração, são 2,1 milhões de domicílios consumindo a categoria. “Já há indícios de que o brasileiro tende a adotar um perfil de compra mais preventivo. No entanto, a jornada de venda de OTC na farmácia ainda ocorre de forma pouco planejada. Além dos hábitos, a disponibilidade de tíquete e a influência do preço pesam para um avanço mais tímido”, acrescenta.
Venda de OTC não avança nos domicílios
A venda de OTC no Brasil também patina na penetração dos lares. Nos últimos 12 meses até março, 42 milhões de domicílios foram impactados pela categoria, contra 42,5 milhões no período anterior.
Houve queda de 1,6% dos chamados clientes casuais, que ampliaram o consumo desses produtos somente em picos de doenças, a exemplo da pandemia de Covid-19 e da epidemia de dengue. O desempenho ainda é sustentado pelos clientes que compram em maior intensidade, chamados de heavy. O grupo representou 49% do valor da cesta e movimentou US$ 3,2 bilhões.
O público consumidor médio no país abrange pessoas com mais de 40 anos de idade, pertencentes às classes A e B e sem presença de crianças no lar. Entre o grupo heavy, a frequência de OTC é quase três vezes maior que a média da categoria, com alta de 2,4% em comparação ao período anterior. O tíquete é 15% maior do que a média e teve ascensão de 12,3%.
Entre o público heavy, os analgésicos firmaram-se como a principal categoria, em detrimento de leite em pó e fraldas, segmentos que tradicionalmente atraem mais shoppers para a loja.
Medicamentos de prevenção ganham espaço na cesta
Independentemente do perfil, os medicamentos de prevenção ganham espaço entre os brasileiros. Multivitaminas e antigripais passam a ocupar a maior fatia que já tiveram dentro da cesta – 43% do valor. Medicamentos generalistas ganham espaço. Aqueles que amenizam ao mesmo tempo dor de cabeça e dor no corpo ocupam a lista de prioridades.
Farmácia é o principal canal de entrada de OTC
A farmácia é o principal canal de entrada de OTC nos lares, com 62,8% de penetração e 34% das ocasiões exclusivas de compra. “Vale destacar, porém, que a cesta de higiene & beleza tem alta relevância, uma vez que os clientes chegam a gastar o dobro em comparação com OTC – 53% contra 30,8%, respectivamente”, afirma a consultora.
- R$ 3,2 bilhões são movimentados anualmente por clientes que compram em maior intensidade OTC no canal farma
- Medicamentos generalistas ganham espaço. Aqueles que amenizam ao mesmo tempo dor de cabeça e dor no corpo é priorizado em detrimento de um que cuidaria somente de dor de cabeça
- Além de buscar otimização dos medicamentos, o brasileiro também faz escolhas pautadas em preço
Farmácia é o principal canal de entrada de OTC
Farmácia é o principal canal de entrada de OTC nos lares, com 62,8% de penetração e 34% das ocasiões exclusivas de compra. Vale destacar, no entanto, que a cesta de Higiene & Beleza tem alta relevância no meio, uma vez que os clientes chegam a gastar o dobro em comparação com OTC – 53% contra 30,8%, respectivamente.
Relevância das categorias em volume consumido
- 42% do volume de OTC é consumido por clientes 50+
- Até 29 anos é o perfil que se destaca na compra de Higiene & Beleza
- A classe DE é a que tem a maior concentração de OTC na cesta farma
- 34% das ocasiões de compra na farmácia são exclusivas de OTC, que inclui analgésicos, antigripais, vitaminas e gastro
- H&B é a cesta que mais convive com OTC na mesma compra, contabilizando 8,3% das ocasiões e inclui itens como desodorante, xampu, sabonetes e absorventes
- 5% das ocasiões no farma ainda são exclusivas de alimentos & bebidas (leite em pó, chocolate, água, refrigerantes e sorvetes). Gastro e analgésicos se desenvolvem mais nessa cesta do que na exclusiva de OTC
- As top cinco bandeiras – Drogasil, Drogaria São Paulo, Droga Raia, Drogaria Pacheco e Farmácias Pague Menos – têm mais ocasiões exclusivas de OTC, porém, mais de 70% das ocasiões no farma são nas demais redes e independentes
- Nas cinco grandes redes de farmácia, o tíquete médio é de R$ 82, mais concentrado entre os dias 10 e 20 de cada mês
- Nas independentes, 44% dos lares brasileiros consomem nesse canal durante o ano para atender alguma necessidade urgente
Gerenciamento de categorias ganha importância na agenda setorial
Para Rogério Lima, vice-presidente de Conteúdo e Consultoria da Retail Farma Brasil e especialista em gerenciamento de categorias, ainda se vê uma correlação muito tímida da visibilidade do OTC na planta baixa do PDV. Essa situação acontece principalmente nas farmácias independentes. “Também falta um trabalho mais assertivo de inteligência de dados para saber o que colocar nesse planograma, com as marcas certas conforme a performance da região onde está o PDV”, explica.
As ativações promocionais, como explorar a ponta de gôndola no período de inverno, também contribuem para enriquecer a jornada de compra. “É uma oportunidade para disseminar itens de prevenção, como os multivitamínicos e suplementos, e enriquecer a cesta do antigripal”, complementa Lima.
Outro ponto crucial está associado à capacitação dos times de loja. “Com as farmácias se posicionando com hubs de saúde e prevenção, atendentes com postura consultiva potencializariam o interesse por categorias focadas na saudabilidade e prevenção”, finaliza.