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A polêmica do paracetamol

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Medicamento comum para aliviar dores e reduzir a febre, o paracetamol deve ser usado com cautela por mulheres grávidas. É o que orienta uma declaração de consenso assinada por 13 pesquisadores, publicada na quinta-feira (23) no periódico Nature Reviews Endocrinology. Especialistas ouvidos pela reportagem pedem cuidado com a interpretação do trabalho.

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No mundo, agências regulatórias, como a norte-americana Food and Drug Administration (FDA), e a europeia European Medicines Agency (EMA), autorizam o paracetamol para uso em gestantes. Porém, os pesquisadores que assinam o documento afirmam que o paracetamol pode alterar o desenvolvimento fetal, aumentando o risco de alguns distúrbios neurodesenvolvimentais, reprodutivos e urogenitais. Por esta razão, no texto, sugerem precaução

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Conscientização por parte dos profissionais da saúde e também das gestantes

“Como cientistas, especialistas médicos e profissionais de saúde pública, estamos preocupados com o aumento das taxas de distúrbios neurológicos, urogenitais e reprodutivos. Estamos testemunhando aumentos preocupantes no número de crianças com problemas cognitivos, de aprendizagem e/ou comportamentais”, escreveram.

 

Membro da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Rio Grande do Sul (Sogirgs) e professor titular de obstetrícia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), José Geraldo Lopes Ramos pondera que não existe nenhuma restrição formal para não usar o medicamento. Contudo, deve-se atentar para a dosagem diária permitida:

 

– É preciso cuidar a dose, que tem limite máximo de 3g/dia. Nenhum órgão, como FDA ou Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), reconhece como algum tipo de precaução até o momento.

 

Cautela na interpretação

Dentre as recomendações, o consenso indica que, desde o começo da gestação, as mulheres devem ser alertadas para: evitar o paracetamol, exceto se o uso seja clinicamente indicado; consultar um médico ou farmacêutico caso não tenha certeza se o uso é ou não recomendado e antes de usá-lo a longo prazo; minimizar a exposição usando a menor dose eficaz pelo menor tempo possível. Para sustentar a orientação, os especialistas revisaram a literatura publicada entre 1 de janeiro de 1995 e 25 de outubro de 2020.

 

“Recomendações específicas foram aceitas após extensa discussão e vários rascunhos e revisões pelo grupo de autores”, diz o documento, que foi apoiado por 78 signatários, além dos 13 autores.

 

Segundo o levantamento, estima-se que, nos Estados Unidos, até 65% das gestantes usem o medicamento. Em nível global, a estimativa chega a 50%.

 

Na avaliação do médico da Sogirgs, o texto, embora publicado em um periódico renomado, apresenta problemas que devem ser levados em conta. O primeiro aspecto apontado por Ramos é o formato que ele foi apresentado: declaração de consenso que, dentro da medicina, não é a maneira com mais evidência para definir tomadas de decisões. Também pesa contra o fato de o texto ser embasado em trabalhos observacionais, de pouca especificidade e que acham associações nem sempre verdadeiras.

 

– O trabalho ideal seria um ensaio randomizado. Muitas vezes, na gestação, o paracetamol é usado quando a mulher está doente. Essas doenças podem causar malformações. Portanto, não é possível saber se o problema foi causado pelo medicamento ou pela doença para a qual ele foi usado – observa Ramos.

Além disso, acrescenta o médico, o paracetamol é usado em centenas de outros medicamentos. Ou seja, não dá para afirmar que ele é causador de determinada alteração.

 

– Tem outro problema que chamamos de “fatores confundidores”, que são os vieses que podem atrapalhar a conclusão de um trabalho. Nesse documento há muitos fatores confundidores, logo, ele não serve para termos uma conclusão definitiva do assunto – pondera Ramos.

 

A rede norte-americana CNN ouviu o vice-presidente de atividades práticas da American College of Obstetricians and Gynecologists, Christopher Zahn, que também se posicionou com cautela em relação ao trabalho.

 

– Esta declaração de consenso e os estudos que foram realizados no passado não mostram evidências claras que comprovem uma relação direta entre o uso prudente de paracetamol durante qualquer trimestre e problemas de desenvolvimento fetal. Os distúrbios do neurodesenvolvimento, em particular, são multifatoriais, e é muito difíceis de associar a uma causa única – disse Zahn, que não fez parte do consenso.

Fonte: Zero Hora

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