Pesquisadores brasileiros identificaram dois casos de coinfecção em pacientes do Rio Grande do Sul. Isso significa que essas pessoas foram infectadas simultaneamente por duas linhagens (genomas diferentes) do novo coronavírus. No entanto, o fato não pareceu agravar a doença.
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A equipe do Laboratório de Microbiologia Molecular da Universidade Feevale, em Novo Hamburgo (RS) e do Laboratório de Bioinformática do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), em Petrópolis (RJ), chegou a essa conclusão após analisar o material genético de 92 amostras de pacientes de 14 a 80 anos de idade, sendo 50% homens e 50% mulheres. A iniciativa faz parte da Rede Vírus, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, da qual participam os dois laboratórios envolvidos na pesquisa.
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Segundo Fernando Spilki, professor e coordenador da pesquisa na Feevale, trata-se de dois pacientes jovens, com cerca de 30 anos de idade, com quadro leve a moderado da doença. No entanto, Spilk ressalta que não se sabe como seria o quadro clínico de um paciente de risco coinfectado, por exemplo.
Os pesquisadores acreditam que os pacientes tenham contraído as duas variantes simultaneamente ou com pouco tempo de diferença de uma para outra, a partir do contato com outras pessoas doentes. “Esse estudo denuncia tem muito vírus circulando e que as pessoas não estão tomando os cuidados necessários. Mostra também a importância de pessoas doentes manterem o isolamento de forma correta, tanto para não transmitir a doença, quanto para não pegar outros vírus”, diz o Spilki.
Recentemente, a Organização Mundial da Saúde (OMS), demonstrou preocupação com as novas variantes da Covid-19, em especial as identificadas na Inglaterra, na África do Sul e em Manaus, salientando a necessidade de fazer uma investigação meticulosa sobre possíveis impactos em vacinas, reinfecções e coinfecções. O relato brasileiro sobre coinfecção não é único, mas é “de fato o primeiro relato mais robusto e envolvendo amostras com a mutação E484K”, afirma Spilki. Segundo ele, havia indícios de possíveis co-infecçoes na África do Sul.
A mutação E484K ocorre na proteína S e é carregada por variantes encontradas na África do Sul e no Rio de Janeiro, por exemplo. A mutação está associada a maior transmissibilidade do vírus e reinfecções. Agora, também a coinfecções.
Embora casos de coinfecção só tenham sido identificados agora, os pesquisadores acreditavam nessa possibilidade desde o início da pandemia e gera preocupação porque a mistura de genomas de diferentes vírus coinfectando o mesmo indivíduo, a chamada recombinação, é um dos fenômenos que está na base da evolução de coronavírus.
Usando ferramentas desenvolvidas pelo grupo do Laboratório de Bioinformática (Labinfo), foi possível a caracterização de cinco linhagens diferentes que estão circulando no Rio Grande do Sul, sendo uma nova, a princípio denominada VUI-NP13L.
Foi possível, ainda, confirmar a disseminação generalizada da variante E484K. “Isso é preocupante, pois sabe-se que essa mutação pode estar associada a um escape de anticorpos formados contra outras linhagens do vírus. É mais uma evidência que essas novas linhagens podem causar problemas mesmo em pessoas que já tenham uma imunidade prévia contra o Sars-Cov-2”, afirma Spilki.
Segundo a coordenadora do Laboratório de Bioinformática do LNCC, Ana Tereza Vasconcelos, os dados visam alertar as autoridades sanitárias que estudos sobre a dispersão do Sars-Cov-2 são extremamente importantes para a segurança de todos. Os pesquisadores também estão conduzindo experimentos in vitro na nova linhagem encontrada no Rio Grande do Sul, incluindo isolamento viral e investigação sobre neutralização ou não por anticorpos presentes no soro de pacientes infectados e recuperados.
Fonte: MSN