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Entenda a importância das pesquisas que rederam o Nobel de Química de 2017

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A data e autoria da invenção do microscópio ainda são objeto de discussão, mas o fato é que a partir do século XVII a “novidade” logo começou a ser intensamente usada pelos cientistas. Ao permitir um vislumbre de um mundo até então “invisível” aos seres humanos, composto por células, micróbios e outros organismos e estruturas diminutas, o instrumento revolucionou as noções da Humanidade sobre a vida e suas doenças, de forma semelhante que a invenção do telescópio, por volta da mesma época, mudou nossas ideias sobre nosso lugar no Universo.

No início do século XX, no entanto, os tradicionais microscópios óticos já estavam no limite de sua capacidade. Por melhores que sejam suas lentes e tecnologias, eles não podem revelar nada menor do que os comprimentos de onda da luz visível, entre 380 e 740 nanômetros (milionésimos de milímetro). Entram em cena então os microscópios eletrônicos. Desenvolvidos pelo físico alemão Ernst Ruska em parceria com o engenheiro Max Knoll, eles usam feixes de elétrons no lugar da luz visível para “iluminar” as amostras. E como os elétrons podem ter comprimentos de onda até 100 mil vezes menores que os da luz, eles podem mostrar estruturas também muito menores.

Mas o uso dos microscópios eletrônicos nos estudos de biologia encontravam empecilhos graves. Isto porque, para fazer observações com eles, as amostras devem ficar no vácuo, o que provoca uma rápida desidratação de tecidos e organismos, compostos basicamente de água, e sua consequente deformação, inutilizando as imagens geradas. Além disso, os potentes feixes de elétrons que iluminam as amostras também as destroem, impedindo a observação de organismos vivos. E foi justamente o desenvolvimento de técnicas que permitiram superar estas limitações, no que ficou conhecido como criomicroscopia eletrônica, que deu ao trio de cientistas europeus Jacques Dubochet, Joachim Frank e Richard Henderson o Prêmio Nobel de Química de 2017, anunciado ontem na Suécia.

Foi graças ao trabalho dos três, por exemplo, que em abril do ano passado cientistas divulgaram a estrutura do vírus da zika em nível atômico. Apesar de conhecido desde 1947, o vírus nunca tinha sido analisado com tamanho detalhamento, que revelou semelhanças e diferenças com outros dos chamados flavivírus como ele, como o vírus da dengue. Isto está ajudando a explicar porque o zika passou a provocar sequelas graves como o surto de microcefalia em bebês de grávidas infectadas durante a epidemia de 2015 aqui no Brasil e abriu caminho para a criação de tratamentos, vacinas e outras estratégias contra o vírus.

– Quanto mais e melhor se determina a estrutura de uma molécula ou vírus, melhores as chances de encontrar formas de interagir com eles, o que é muito importante para o desenvolvimento de fármacos – resume Kildare Miranda, professor do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, da UFRJ, e presidente da Sociedade Brasileira de Microscopia e Microanálise.

Destaque semelhante é dado por Jerson Lima Silva, professor do Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis, também da UFRJ, e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Biologia Estrutural e Bioimagem (Inbeb):

– Quando um vírus vai invadir uma célula, ele se liga à membrana dela num encaixe que é no nível molecular, atômico. Então, para criar medicamentos que interfiram neste processo, temos que saber qual a forma destas estruturas, destes encaixes.

Já Wanderley do Souza, também professor do Instituto de Biofísica da UFRJ, lembra que os desenvolvimentos trazidos pelo trio de laureados europeus é apenas o início da história e que o campo continua a avançar a passos largos, já sendo possível, por exemplo, fazer imagens de células inteiras em ação, e não mais moléculas ou organismos isolados e inertes.

– Eles construíram uma base sólida para outra revolução que está a caminho – diz. – A criomicroscopia eletrônica nos dá a oportunidade de ver complexos macromoleculares interagindo, menos um retrato e mais um filme, com cenário e tudo.

Fonte: O Globo

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