Os estudos clínicos com cannabis medicinal representam um passo importante para a ampliação do acesso e inclusão de indicações terapêuticas, além de justificar a incorporação de novos produtos em canais como o Sistema Único de Saúde (SUS). E mais um passo foi dado, desta vez no município de Goiânia (GO).
O prefeito da cidade, Sandro Mabel (UB), sancionou uma lei do vereador licenciado Lucas Kitão (UB), que institui diretrizes para o incentivo às pesquisas científicas sobre o uso terapêutico da cannabis e seus derivados. Publicada no Diário Oficial, a lei busca reduzir as desigualdades no acesso a medicamentos e produtos derivados da cannabis, garantindo que mais pacientes possam se beneficiar de tratamentos alternativos.Além disso, prevê o fortalecimento de instituições públicas e privadas de ensino e pesquisa, bem como das organizações da sociedade civil, com o objetivo de ampliar a capacidade operacional e científica de entidades que atuam na área de saúde e inovação.
Estudos clínicos com cannabis exigirão custo de R$ 300 milhões
Os estudos clínicos com cannabis exigirão um custo de R$ 300 milhões nos próximos três anos para comprovar sua eficácia e segurança, segundo estimativas da Associação Brasileira da Indústria de Canabinoides (BR Cann). As pesquisas são uma exigência da Anvisa para o registro definitivo dos produtos. Quando entrou em vigor, em 2020, a RDC 327 concedeu autorizações temporárias em caráter excepcional, sob a condição de que estudos sobre o tema fossem realizados posteriormente.
“Trata-se de um requisito regulatório para que sejam qualificados como medicamentos, tenham seus preços regulados pela Câmara de Medicamentos (CMED) e, eventualmente, incluídos na Conitec para incorporação aos planos de saúde”, explica a diretora executiva da entidade, Bruna Rocha.
Em dezembro passado, a GreenCare Pharma recebeu anuência da Anvisa para condução de pesquisa clínica de produto derivado de cannabis, como parte do desenvolvimento de medicamento fitoterápico. De acordo com a companhia, o investimento em pesquisa e desenvolvimento soma R$ 25 milhões.
Já Prati-Donaduzzi foi pioneira na realização de um estudo clínico para epilepsia, protocolado em dezembro de 2022 e que está em análise pelo órgão regulador.
Pesquisadores investigam uso de cannabis para tratamento de Alzheimer
De olho em novas terapias para o Alzheimer, a Universidade Federal de Uberlândia (UFU), em parceria com a empresa Mahara, testou o uso de canabidiol (CBD) em espécies de mosca-das-frutas – cientificamente conhecida como Drosophila melanogaster.
No estudo conduzido por Carlos Ueira Vieira, professor do Instituto de Biotecnologia e do Laboratório de Genética da UFU; e Serena Mares Malta, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Genética e Bioquímica, o óleo de CBD foi administrado em moscas transgênicas, que possuem genes humanos associados à doença.
Segundo o pesquisador, a administração oral do CBD nas moscas reduziu a toxicidade do peptídeo beta-amilóide, marcador da doença, no cérebro dos insetos. Isso levou à melhora de sintomas como perda de memória e problemas motores. Os resultados vêm sendo considerados promissores. “Também já temos estudos voltados para depressão, epilepsia e TDAH”, complementa Vieira.
Estudo brasileiro irá tratar osteoporose com cannabis
Já a Associação Panamericana de Medicina Canabinoide (APMC) irá investigar a aplicação da cannabis no tratamento de mulheres com dor crônica e osteoporose. A pesquisa é fruto de outra investigação sobre o impacto dos receptores canabinoides na saúde óssea. Os resultados mostraram que esse mecanismo por onde a cannabis trabalha pode influenciar na inflamação e na regeneração.
Agora, o novo estudo será realizado de forma colaborativa, ou seja, com vários profissionais de áreas diferentes, reunindo as áreas de odontologia, a medicina, a farmacologia e a biologia. O projeto recebeu apoio da Faculdade de Medicina do ABC e da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Além disso, foi selecionado pelo edital da Frente Parlamentar da Cannabis Medicinal em São Paulo de 2024, que destinou R$1 milhão em emendas para iniciativas envolvendo a cannabis e o cânhamo industrial. A investigação da APMC obteve um quarto desse valor (R$ 284.428) para viabilizar o estudo.