Com demanda em alta e um suporte regulatório mais estruturado, o mercado de cannabis vem atraindo cada vez mais healthtechs. Essas empresas investem em soluções tecnológicas avançadas, de olho em uma atividade que deve movimentar cifras de R$ 1 bilhão até o fim de 2025. Segundo estudo da Kaya Mind, o setor apresentou um crescimento de 22%, passando de R$ 699 milhões em 2023 para R$ 852 milhões em 2024.
Atualmente, 313 mil pacientes importam medicamentos derivados da planta, 212 mil compram nas farmácias e 147 mil têm acesso por meio de associações de pacientes. Uma reportagem do Estadão elencou algumas tecnologias que vêm ajudando médicos, empresas e pacientes.
A Blis é o único aplicativo autorizado pela Google Play e Apple Store a realizar a jornada do paciente de cannabis, da consulta à compra, em poucos minutos. A empresa lançou uma plataforma que, em menos de um ano de operação, já reúne um banco de dados com mais de 15 mil anamneses, que favorecem o trabalho do médico e vão traçando, pouco a pouco, o raio-X da saúde dos brasileiros.
A companhia desenvolveu um software para rastrear a demanda opaca dos médicos inscritos na plataforma, oferecendo consultas bem abaixo do preço de mercado e dos valores cobrados normalmente pelo próprio médico. “Uma consulta mais baixa, de R$ 89, faz sentido para o médico em um momento em que ele não tem nenhuma outra consulta marcada”, avalia o fundador Toninho Corrêa.
Uma vez que o paciente adquiriu ou produziu seu próprio medicamento e está com ele em mãos, é possível testar os produtos em casa com os reagentes produzidos pela Reaja, que indicam a presença de CBD e THC – as duas moléculas principais da planta.
Ainda no primeiro semestre deste ano, a empresa deve disponibilizar um novo reagente semiquantitativo, capaz de medir a quantidade de canabinoides presentes com base na intensidade colorimétrica, em uma faixa de 0,5% a 25%.
O mercado cresceu, e com ele, também os desafios para a gestão dos processos e controle de produtos. Pensando nisso, o neurocientista e tecnólogo Gabriel Camargo criou a D9 Tech, software com tecnologia nacional para a gestão de processos de qualquer empresa que trabalhe com grande fluxo de pacientes e produtos à base da planta.
Cultivo em larga escala impulsiona mercado de cannabis
Desde novembro do ano passado, quando o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu autorizar o cultivo em larga escala, empresas do mercado de cannabis que já desenvolviam tecnologias para o pós-colheita aproveitaram a oportunidade.
Um dos exemplos é do empresário Felipe Farias, que idealizou a Liamba, cujo primeiro produto é uma debastadora que retira as flores dos galhos. Trata-se da primeira máquina de pós-colheita com tecnologia 100% nacional e capacidade de processar 15 quilos de matéria-prima por hora.
À frente da Hemp Cycle, Rafael Gallo passou os dois últimos anos trabalhando na criação de uma máquina de extração semi-industrial, que promete aumentar a eficiência das associações de pacientes e também das farmacêuticas na extração de tricomas.
“É uma extração super limpa, de grau farmacêutico, que por ter tecnologia brasileira, não exige assistência do Exterior e representa uma alternativa mais econômica que a importação”, argumenta o empresário, que vende a máquina por R$ 90 mil, enquanto uma equivalente de outro país custaria entre US$ 20 mil e US$ 25 mil (R$ 116 mil e R$ 145 mil).