
O ritmo acelerado de fechamentos de farmácias independentes e o recorde de pedidos de recuperação judicial expõem os gargalos do pequeno e médio varejo. E para o especialista em educação corporativa Gilson Coelho, um dos fatores que empurram esse segmento para o abismo pode estar relacionado à decisão equivocada de replicar estratégias das grandes redes.
O consultor estima que mais de 50 mil farmácias independentes estejam em reais dificuldades financeiras. “Esse movimento cria um círculo vicioso que só agrava os resultados financeiros, por meio de decisões como a concessão de descontos cada vez mais agressivos e a manutenção de um mix amplo com produtos que claramente apresentam margens baixas. Como consequência, a expectativa de receita não se concretiza e o Custo da Mercadoria Vendida (CMV) segue viés de alta, o ponto de equilíbrio aumenta e fica cada vez mais difícil alcançar resultado positivo”, adverte.
Contas a pagar nas alturas forçam a farmácia a recorrer a empréstimos bancários ou ao uso do capital pessoal do dono. “É a fórmula da tragédia”, acrescenta. Coelho também adverte para um fenômeno surgido na pandemia. “Passamos a conviver com uma série de “soluções mágicas” que prometem faturamento instantâneo sem levar em conta os fundamentos do negócio”, ressalta.
Copiar a tática das grandes redes, na sua visão, alimenta uma corrida maluca que vai muito além do nível exagerado dos descontos. “O anseio de garantir sobrevida aos negócios leva as pequenas e médias empresas do setor a apostar em ferramentas desconhecidas que geram mais despesas e dor de cabeça”, acredita.
O que acontecerá com as farmácias independentes se nada mudar
Se nada for feito, a tendência nas farmácias independentes é clara. A situação vai se agravar ainda mais. “O mercado farmacêutico está crescendo menos. As taxas de juros continuam altas, o crédito está mais difícil, e a inflação pressiona as famílias e os negócios. O tempo está passando e, com ele, a saúde emocional do proprietário, o ânimo da equipe e a estabilidade da empresa”, avalia.
Ele alerta que quanto mais tempo se insiste na fórmula que não funciona, mais distante fica a possibilidade de recuperação. Para solucionar essa questão, o segredo é reconhecer e fortalecer os seus pontos fortes, que os grandes não têm, tais como:
- Mais agilidade na forma de aprender e alcançar resultado
- Mais respeito, proximidade e interação com os clientes
- Uma estrutura funcional mais enxuta
- Adoção de um protagonismo consciente, realçando o papel da farmácia como agente comunitário da saúde
- Um atendimento diferenciado, humanizado, que respeita o cliente, suas necessidades e o seu poder aquisitivo
Coelho adverte e usa como inspiração o fato de que Davi não enfrentou Golias com as mesmas armas. Ele não tinha e mesma experiencia, reputação, muito menos estrutura física correspondente.
“Quando o dono é despertado e assume o protagonismo, ele se conecta com os métodos consagrados e rituais de produtividade adequados ao seu negócio. Tudo começa a mudar rapidamente, tendo faturamento e rentabilidade como pontos de partida, mas de uma maneira segura e sem riscos”, afirma Coelho.
Isso significa reorganizar processos, revisar categorias, alterar o perfil das compras, o que gera margens reais. “O mais importante é adotar essas práticas respeitando a realidade da farmácia, sem fórmulas mágicas nem improvisos”, finaliza.