O lucro da Hypera, em viés de queda, forçou a empresa a anunciar uma ofensiva para otimizar seu capital de giro. Uma das medidas mais impactantes será a redução dos prazos de pagamento concedidos aos clientes, incluindo farmácias, embora mais detalhes não tenham sido divulgados. Segundo informações do Broadcast e do Money Times, a farmacêutica brasileira projeta aumentar a geração de caixa em até R$ 2,5 bilhões até 2028 e R$ 7,5 bilhões nos próximos dez anos.
A decisão teve o referendo do conselho de administração da companhia na última sexta-feira, dia 18, após deliberações junto ao seu comitê de estratégia. De acordo com a Hypera, as medidas têm como objetivo garantir maior flexibilidade financeira e melhorar a eficiência operacional, diante da perspectiva de taxas de juros ainda elevadas em médio prazo.
No entanto, o cenário de endividamento também vem despertando sinais de alerta internamente e no mercado financeiro. A farmacêutica registrou despesas financeiras de R$ 900 milhões e R$ 2,5 bilhões nos últimos 12 e 36 meses, respectivamente. A relação da dívida líquida sobre o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) chegou a 2,5 vezes no segundo trimestre.
Outra decisão aprovada pelo conselho de administração diz respeito a um programa de recompra de até 30 milhões de ações na bolsa de valores. Esse montante equivale a 7,49% dos papéis da empresa em circulação no mercado. A estratégia já teve início no dia 18 e deverá se estender por até 18 meses.
Lucro da Hypera terá projeções suspensas
A tendência de retração no lucro da Hypera Pharma ganha contornos ainda mais preocupantes com a descontinuidade das projeções financeiras para 2024. Isso significa que os próximos balanços da farmacêutica brasileira não apresentarão estimativas financeiras para o ano de 2024.
Até então a companhia previa receita líquida de R$ 8,6 bilhões, contra R$ 7,9 bi do ano anterior – um tímido avanço de 8,8%, abaixo da média prevista para a indústria farmacêutica nacional. A lucratividade ajustada chegaria a somente R$ 1,85 bilhão.
Os últimos resultados reforçam a preocupação. No quatro trimestre do ano passado, a queda no lucro sobre o mesmo período de 2022 foi de 28,3%. No segundo trimestre de 2024, esse indicador caiu 2,5%. O resultado foi ao encontro da avaliação de especialistas do BTG Pactual, que chegaram a cravar que a empresa deve ser a única representante do setor de saúde na B3 a apresentar números mais fracos neste ano, na contramão das perspectivas envolvendo a da indústria farmacêutica nacional.
Um relatório do banco assinado na primeira quinzena de julho apontou a composição desfavorável do mix da Hypera Pharma, ainda muito focado em antigripais e anti-inflamatórios, como um dos responsáveis pela performance do trimestre.
Em maio, o Santander cortou de R$ 41,50 para R$ 33,50 o preço-alvo das ações da companhia. Um dos motivos seria justamente a forte atuação do laboratório em medicamentos antigripais, que representam 30% do portfólio. Ao longo deste ano as ações já tiveram desvalorização de 26%.
Os números justificam o foco da companhia de investir na diversificação do portfólio por meio de medicamentos inovadores e de especialidades, de olho na presença mais efetiva no mercado institucional. Em fato relevante enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), declarou que o “sell-out, já no terceiro trimestre e em outubro de 2024, teve um crescimento de aproximadamente 11% e 13%, respectivamente”.