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Maior estudo já feito sobre enxaqueca joga luz sobre genética da doença

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O ator Miguel Thiré, que sofre com enxaquecas quando está cansado: estudos genéticos podem levar ao desenvolvimento de novas drogas para a condição

RIO – Nauseantes, e por vezes debilitantes, dores de cabeça afetam 15% a 20% dos adultos nos países desenvolvidos, mas muitos casos ainda são difíceis de explicar. Os cientistas sabem que as enxaquecas tendem a atingir integrantes da mesma família, mas não sabem exatamente o porquê. No entanto, um novo estudo, considerado “o mais amplo já feito sobre o tema”, publicado nesta quinta-feira no periódico científico “Neuron”, revela de que modo algumas famílias são mais suscetíveis às enxaquecas e como a genética pode influenciar o tipo de dores que sentem.

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— Por muito tempo ficamos pensando como uma doença comum, como as enxaquecas, se agregam em torno de algumas famílias — conta Aarno Palotie, pesquisador do Instituto para Medicina Molecular da Finlândia e do Instituto Broad, associação entre Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e a Universidade de Harvard em Cambridge, EUA.

Ao estudar, no total, mais de 59 mil pacientes com enxaqueca, os pesquisadores por trás deste estudo identificaram mais de 40 variantes de risco genético significativas que predispõem os indivíduos à enxaqueca. A equipe, então, combinou informações de todas essas variantes de risco implicadas e calculou uma “pontuação” de risco genético pessoal para cada um dos participantes do estudo.

Essa “pontuação” de risco genético foi utilizada para estimar e comparar a carga genética conferida por variantes comuns em diferentes subgrupos de pacientes com enxaqueca.

Pesquisas prévias sobre as enxaquecas identificaram duas maneiras que elas atingem famílias. Estudos de “ligação”, que traçam o caminho de partes dos cromossomos passados dos pais para os filhos, identificaram três genes — designados CACNA1A, ATP1A2 e SCN1A — associados às chamadas enxaquecas hemiplégicas, forma severa da condição que induz sintomas similares aos de um derrame, com fraqueza e paralisia em um lado do corpo.

Estes genes se encaixam nos modelos de herança mendeliana, em que as duas cópias de um gene herdadas por uma pessoa de seus pais determinam o surgimento de um traço ou doença. A anemia falciforme é outra doença que se acredita ser de herança mendeliana.

Outra maneira que as enxaquecas atingem uma mesma família envolve heranças poligênicas. Se um traço é poligênico, isso significa que um grupo de genes influencia seu surgimento. Como receber uma mão ruim num jogo de cartas, cada variante genética comum tem só um pequeno efeito individual, mas o conjunto destas variantes se soma para levar ao desenvolvimento da característica ou doença. A altura é um exemplo de herança poligênica.

Diante disso, Palotie e seus colegas decidiram investigar se apenas uns poucos, mas poderosos, genes mendelianos, uma acumulação poligênica de variante comuns ou uma combinação dos dois mecanismos influenciam a maneira como as enxaquecas são herdadas nas famílias.

Para decobrir isso, primeiro os pesquisadores desenvolveram um “placar de risco poligênico” para estimar o “peso” das variantes comuns no aparecimento da doença. Assim, eles angariaram dados de estudos anteriores de associação genômica, um tipo de pesquisa que compara genomas de milhares de indivíduos e apontam chamados loci (locais nos cromossomos) que diferem nas pessoas que têm uma determinada doença. Ao todo, centenas, e possivelmente milhares, destes loci associados às enxaquecas foram incorporados ao placar de risco poligênico.

Em seguida, os pesquisadores testaram a influência destes placares de risco e os três genes mendelianos conhecidamente associados às enxaquecas em um amplo estudo com famílias que sofrem com a condição na Finlândia. O estudo inclui os históricos médicos e dados genéticos de 1.589 famílias compostas por 8.319 indivíduos sabidamente vítimas de enxaquecas. Esta chamada coorte de famílias com enxaquecas foi então comprada com outros grandes estudos de coorte que serviram como grupos de controle, como a pesquisa FINRISK, que envolve 14.470 pessoas, das quais 1.101 com histórico de enxaquecas.

Resultado após resultado destas comparações mostraram que as variantes comuns poligênicas tinham maior influência no aparecimento das enxaquecas do que os três genes mendelianos. Os dados também mostraram que se as enxaquecas de uma pessoa começaram mais cedo na vida, eram mais severas ou estavam presentes em sua família, era mais provável que por trás disso estivesse um maior fardo destas variantes poligênicas.

— A força destas variantes comuns nessas famílias nos surpreendeu — destaca Palotie.

Por outro lado, os três raros, mas poderosos, genes mendelianos ligados às enxaquecas não pareceram influenciar tanto o risco de desenvolvimento da condição quanto os pesquisadores esperavam. No amplo estudo familiar, os cientistas identificaram 45 famílias com enxaquecas hemiplégicas e sequenciaram o genoma de seus indivíduos. Os resultados mostraram que as enxaquecas de apenas quatro das 45 famílias tinha como base estes raros genes mendelianos, com os restantes desencadeados pelas associações poligênicas de variantes genéticas comuns.

— Isso realmente mostrou, em uma amostra muito grande, que as variantes comuns são importantes fatores para a agregação das enxaquecas em torno de algumas famílias — avalia o pesquisador.

Ele acredita que mais sequenciamentos genéticos e estudos mais amplos vão ajudar os cientistas a encontrar tanto novas variantes genéticas comuns quanto genes mendelianos associados às enxaquecas.

— Isto é de especial interesse para o desenvolvimento de remédios — considera Palotie. — Mesmo que os genes mendelianos não estejam por trás da maioria dos casos de enxaquecas, os cientistas podem investigar como estes genes impactam as vias biológicas responsáveis pelos sintomas e potencialmente desenvolverem novas drogas que tenham como alvo essas vias.

Fonte: O Globo

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