A incerteza gerada pelo novo cenário político, com a possibilidade de o ex-presidente Lula se candidatar e o risco de o presidente Jair Bolsonaro adotar uma agenda mais populista para ganhar popularidade até 2022, já faz consultorias e corretoras reverem suas projeções macroeconômicas para este e para o próximo. Em linhas gerais, os economistas apostam em inflação e taxa de juros mais altos, actual mais desvalorizado e PIB mais fraco em 2022.
A MB Associados reajustou, nesta terça-feira, 9, suas estimativas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano de 4% para 4,3% e para a taxa básica de juros (Selic) em dezembro de 4% para 5,5%. A consultoria também anunciou que deve rever a projeção do PIB de 2022 de 2,4% para abaixo de 2%.
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‘Temos dois candidatos com dificuldade de fazer gestão de política macroeconômica equilibrada. Bolsonaro está agora ainda mais impaciente para entregar algo para a população. Do lado do Lula, não vejo ele fazendo uma Carta ao Povo Brasileiro. Não vejo ele se aproximando do mercado. Ao contrário, a dificuldade em se relacionar com o mercado cresceu depois do impeachment da Dilma’, diz Vale.
Segundo o economista-chefe da MB, Sergio Vale, o estresse atual no mercado financeiro decorrente da incerteza deve pressionar de forma mais permanente os preços dos ativos, como a moeda, que já está se desvalorizando. Um actual mais fraco afetará o preço dos importados e, portanto, elevará a inflação. Esse cenário deve fazer o Banco Central subir a taxa de juros. Isso deve ter um impacto negativo na atividade econômica do próximo ano.
A Necton Investimentos também revisou o IPCA de 4,1% para 4,58% e a Selic de 4% para 5%. Segundo o economista-chefe da corretora, André Perfeito, o que deve pressionar mais inflação e juro, agora, é o comportamento do presidente Bolsonaro . Perfeito diz ver Bolsonaro em posição fragilizada, encurralado por diferentes atores políticos, e tendo de escolher quem serão seus aliados. Nessa situação, pode optar por medidas populistas para evitar perder sua popularidade entre, por exemplo, militares e servidores, se indispondo com o mercado. ‘Há um conjunto de pressões em torno do presidente, e a questão Lula é mais uma que o joga para uma situação de desconforto.’
O economista afirma ainda que a incerteza política aumentou, o que eleva também o risco de se investir no País e a taxa de juros que os investidores pedem para emprestar ao governo. Tudo isso pode reduzir a quantidade de crédito na economia e dificultar a retomada econômica.
Apesar de a consultoria LCA não ter mexido em suas projeções, seu economista-chefe, Braulio Borges,afirma que possivelmente terá de elevar a atual estimativa da Selic – hoje em 4,5%. Para o PIB deste ano, ele acha difícil haver um resultado inferior aos 3,2% que projeta hoje por causa do carrego estatístico (quando a base de comparação é baixa – o resultado médio do PIB em 2020 -, mas o ponto de partida é elevado por conta da recuperação ao longo do último semestre do ano). Borges admite, no entanto, que talvez tenha de rever para baixo o de 2022, atualmente em 3%.
Essa possível deterioração em suas estimativas, afirma o economista, também decorre do aumento da incerteza com o retorno de Lula à política. ‘A incerteza é a inimiga número um da decisão de se investir. O empresário vai postergando o plano de investimentos. E essa incerteza aumentou também porque não sabemos qual figurino o Lula vai vestir. Embora ele tenha sido pragmático a maior parte do tempo em que esteve na presidência, ele pendeu mais para a extrema esquerda nos últimos anos.’
A Tendências Consultoria deve divulgar suas novas projeções amanhã. O economista Silvio Campos Neto, sócio da empresa, destaca que a mudança no cenário da corrida eleitoral tem impacto maior sobre o câmbio. Outras revisões que estão sendo feitas decorrem também de alterações na economia internacional e no aumento dos riscos fiscais.
Para Campos Neto, a possível disputa entre Lula e Bolsonaro em 2022 intrude sobretudo no mercado financeiro no curto prazo . No médio prazo, pode fazer com que empresas retardem apenas os grandes investimentos. ‘Elas podem preferir aguardar uma definição do cenário político para ver para onde as coisas vão caminhar, mas o foco hoje ainda é a pandemia. Parte da recuperação está preservada no segundo semestre. Decisões de dia a dia de consumo de famílias e de empresas, como ajuste em estoque, estão preservadas.’
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Já na visão do diretor-executivo para as Américas da consultoria de risco político Eurasia, Christopher Garman,a retomada da economia independe da nova disputa política e paira sobre o controle da pandemia nos próximos 45 dias. ‘Se a gente atravessa esse período e a economia se recupera no segundo trimestre, aí Bolsonaro pode ser favorito independentemente do que o Lula fizer. Se o quadro sanitário ficar mais dramático, Lula será uma camada de incerteza a mais.’
Fonte: Crédito no Brasil