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O estigma sob a obesidade

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A sociedade mais crítica estigmatizou a obesidade. É o que vejo todos os dias em meu consultório. São pessoas com sobrepeso que já chegam em busca de cirurgia bariátrica. Obesos que se veem discriminados sem vontade de viver. É uma doença multifatorial complexa e, por ser crônica, deve receber um tratamento adequado, composto por diversas abordagens de equipe multidisciplinar.

Um estudo descritivo, do tipo transversal, conduzido por mim e minha equipe na Fundação Padre Albino (Fameca), em 2009, avaliou o nível de estigma sob os obesos. Foram apresentadas sete imagens a um total de 304 crianças e adolescentes de 6 a 19 anos, estudantes da rede pública de ensino de um município no interior de São Paulo. Elas retratavam pessoas com os seguintes perfis: saudável (dentro do biotipo padrão da sociedade), obeso, magro anoréxico, deficiente físico em cadeira de rodas, deficiente físico com muletas, deficiente físico com amputação do membro superior e portador de lesões por queimaduras.

Após a exposição das caricaturas, conduzimos um questionário com perguntas ligadas ao caráter de pessoas com base em sua imagem. Pudemos concluir que para as questões com conotação positiva, como quem seria o mais confiável, mais bonito, mais inteligente, entre outras, observarmos que o indivíduo saudável foi significativamente o mais votado (41,8% dos votos), como esperado; o queimado (3,1%), o magro (4,5%) e o obeso (6,1%) foram os menos votados. Para as questões com conotação negativa, como quem você não confiaria, quem é o mais chato, entre outras, o maior percentual dos votos foi destinado ao indivíduo queimado (34,6%), seguido pelo obeso (21,4%) e pelo magro (14%).

Esse estudo é um pequeno retrato do que acontece na nossa sociedade, e podemos ressaltar que é algo que vem sendo repassado para as mentes das nossas crianças. Devemos saber que ensinar é muito diferente de discriminar, pois diversos fatores etiológicos podem levar à obesidade. Um dos principais pontos é a etiopatogenia dessa doença, que é conhecida pela desregulação do sistema nutroneurometabólico de homeostase energética, também conhecido como sistema endócrino, composto por glândulas que secretam hormônios que mantêm a regulação corporal e sua disponibilidade energética. Desregular esse sistema altamente complexo faz com que ele dificilmente seja reestabelecido em sua totalidade. A literatura científica comprova isso.

Assim como hipertensão e diabetes, o tratamento da obesidade deve ser iniciado por tentativas de dietas responsáveis e atividades físicas como base. Após isso, caso não seja o suficiente, se mostram necessárias mudanças cognitivas e comportamentais. Só então, no caso de não haver resultado, partimos para a farmacoterapia e, apenas em último caso, a cirurgia bariátrica. Com o desenvolvimento e maior precisão na medicina diagnóstica, podemos hoje, com um simples exame de sangue, descobrir a existência de proteínas codificadas que atuam na predisposição ao sedentarismo, na baixa oxidação lipídica, processo responsável pela combustão das células do tecido adiposo, na adipogênese, que é a expansão do tecido adiposo por meio da proliferação de adipócitos (composto em sua maioria por gordura); e na regulação da saciedade, por exemplo.

Sinto-me no dever, como médico nutrólogo, de esclarecer que as dietas da moda não possuem embasamento científico, e que produtos milagrosos para emagrecer não existem. As fake news favorecem uma discriminação ainda maior em relação aos obesos, pois colocam a perda de peso como algo simples, fácil. No mesmo caminho, as críticas frequentes — especialmente as autocríticas baseadas no que as pessoas veem nas redes sociais — dificultam o tratamento do lado psicológico do paciente e consequentemente um tratamento correto do todo. Assim como o preconceito quanto à utilização de medicamentos antiobesidade, que favorece o processo de estigmatização do paciente obeso. Afinal, quanto tempo será necessário para que a sociedade entenda que os pacientes obesos precisam de um tratamento adequado? É preciso compreender: nem todo magro come pouco e nem todo obeso come muito.

Fonte: Correio Braziliense

Veja também: https://panoramafarmaceutico.com.br/2019/10/29/medicamento-inovador-no-combate-a-obesidade-e-sobrepeso-chega-ao-brasil/

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