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Por que é tão difícil e caro testar para a Covid no Brasil?

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Longas filas, indisponibilidade e frustração viraram rotina para brasileiros que buscam testes para Covid-19 num momento em que a variante Ômicron avança no país junto a doenças que causam sintomas semelhantes, como a gripe. As dificuldades atingem pacientes tanto da rede pública quanto da privada, e até testes de farmácia estão em falta em várias capitais desde a virada do ano.

Aliada ao apagão de dados que persiste nos sistemas do Ministério da Saúde desde que a pasta foi alvo de um suposto ataque hacker, em 10 de dezembro do ano passado, a falta de testes deixa o Brasil numa espécie de cegueira estatística enquanto as infecções pelo coronavírus disparam em várias partes do mundo.

‘Testar, testar e testar’ é a estratégia que a Organização Mundial da Saúde (OMS), por meio de seu diretor-geral, Tedros Adhanom, sugere aos países desde meados de 2020, no início da pandemia, para melhor lidar com a calamidade pública. O Brasil, porém, tem lidado com problemas como escassez e carestia ao longo de todo o período pandêmico. Quem se dispõe a pagar pelos testes dificilmente encontra opções a menos de R$ 100 e muitas vezes paga mais de R$ 300 em um teste RT-PCR nos laboratórios privados.

Enquanto nos Estados Unidos, na China e em países da Europa os cidadãos têm acesso a testagem em massa, que inclui o envio de kits para a casa dos pacientes, opções baratas no setor privado e autotestes, no Brasil a maioria da população nunca se testou.

Números

De acordo com o Ministério da Saúde, desde o início da pandemia foram distribuídos 56 milhões de testes para unidades públicas de saúde, um investimento que custou R$ 1,6 bilhão aos cofres públicos, mas não há dados consolidados sobre quantos deles foram aplicados. A Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), por sua vez, informa ter realizado 12 milhões de testes.

Nas contas do site Worldometer, que reúne estatísticas sobre o combate à pandemia no mundo, o Brasil aplicou 63,7 milhões de testes em sua população (que é de 210 milhões de pessoas). Isso deixa o país num triste 131º lugar entre os países que mais testaram (de um total de 209 dos quais constam dados). São menos testes por milhão de pessoas do que os de países como Suriname (que está em 130º lugar nessa lista), Iraque (120º lugar), Argentina (104º lugar), Peru (102º lugar), e Uruguai (70º lugar).

Mas por que faltam testes no Brasil? Para o médico Alcides Miranda, professor de saúde pública da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a escassez é fruto de uma política pública falha.

‘Alguns países desenvolveram e produziram rapidamente seus próprios testes, pois dispunham, como nós, de tecnologia apropriada e de alternativas para a produção em escala. Isso inclui inclusive países menores, como o Uruguai’, afirma ele, em entrevista ao Metrópoles.

‘O que ocorreu no Brasil pode ser contextualizado e agregado com outros problemas correlatos: negligência intencional por parte do governo federal e insuficiência logística da parte de governos estaduais’, complementa ele, que vê prejuízos no controle da pandemia com a situação. ‘A testagem sistemática de casos e a seletiva para contatos são imprescindíveis para o monitoramento e o bloqueio epidemiológicos, o que lamentavelmente não ocorreu no Brasil desde o início da pandemia’, avalia o especialista.

O que poderia ser feito?

Para o epidemiologista Airton Stein, professor de saúde coletiva da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), seria importante ampliar as opções de testagem para a população. ‘Com o aumento de casos novos de Covid-19, em função de uma variante que é muito transmissível [a Ômicron], também houve a busca de exames para fazer o teste diagnóstico. A disponibilidade de testes diagnósticos rápidos no domicílio é essencial neste cenário e deve ser estimulada no sistema de saúde público e privado no Brasil’, sugere ele, em entrevista ao Metrópoles.

No entanto, para disponibilizar no Brasil os autotestes que se popularizaram em outros países, há questões legais e regulatórias a serem enfrentadas. Apesar de haver alguma disponibilidade desse tipo de teste para venda no mercado internacional, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não autorizou a importação e uso da tecnologia por aqui.

A questão é que a agência prevê em suas normas que exames para doenças contagiosas e de notificação obrigatória (como a Covid-19) sejam feitos por profissionais especializados. Em 2016, porém, o órgão abriu uma exceção e autorizou a venda em farmácias de autotestes para detectar o vírus HIV.

Enquanto persistem essas questões de ordem burocrática, os brasileiros enfrentam seguidas dificuldades para testar se estão infectados pelo coronavírus. No Distrito Federal, por exemplo, pacientes com sintomas gripais têm relatado dificuldades para fazer testes da Covid-19 e da gripe H3N2 na rede pública do Distrito Federal.

Segundo relatos da população confirmados pela reportagem, a testagem está disponível apenas nas unidades de referência da residência do paciente, no começo da manhã e no início da tarde, e há limite de testes por dia.

No Rio de Janeiro, onde foi registrado um aumento de 6.778% no número de casos de Covid-19, os postos de testagem para a doença estão lotados desde o fim do ano passado. A fila de espera entre a triagem e o teste passou das duas horas na Arena Carioca, um dos dez locais montados pela Secretaria municipal de Saúde na capital para testagem gratuita, segundo registro feito pelo Metrópoles na última quinta-feira (6/1).

Em Goiânia, a reportagem registrou esperas de até 5 horas ao longo da última semana para a testagem grátis na rede pública.

Usuários da rede privada de saúde em todo o país também têm relatado dificuldades crescentes para marcar e fazer testes pelo plano de saúde.

Com tudo isso, fica difícil para os brasileiros seguir o conselho de Tedros Adhanom e ‘testar, testar e testar’.

Fonte: Portal Metrópoles Online

 

Veja Também: https://panoramafarmaceutico.com.br/iniciativas-pague-menos-aprimoram-pdv/

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