No supermercado, no pagamento do aluguel, na compra de uma viagem, a inflação está lá, fazendo o dinheiro valer cada vez menos.
No posto de gasolina, se entende isso bem. No começo do ano, com R$ 100, você abastecia o carro com 22 litros de gasolina. Na semana passada, depois de um aumento de quase 41% nas bombas neste ano, o mesmo valor só dava para 15 litros.
Essa alta dos preços, generalizada nos produtos e serviços, aparece em vários indicadores de inflação: tudo subindo.
E nesta terça-feira (26), o índice que dá uma prévia da inflação oficial no país, o IPCA-15, mostrou que a pressão sobre os preços vai continuar. Foi a maior variação para o mês de outubro desde 1995: 1,2%. No acumulado dos últimos 12 meses, a inflação está em mais de dois dígitos: 10,34%.
A meta estabelecida pelo governo para a inflação este ano é bem menor do que isso: 3,75%, podendo chegar a 5,25%.
‘O que a gente está vivendo, de fato, é um processo de estagflação, uma inflação muito alta e, ao mesmo tempo, uma queda da atividade econômica. Porque a inflação chegando a dois dígitos, 10%, acaba tendo impacto muito grande no custo da cesta de consumo e acaba corroendo o poder de compra dos rendimentos familiares’, ressalta Julia Braga, professora de economia da UFF.
Para tentar conter a disparada dos preços, o Banco Central vem usando como instrumento o aumento da taxa básica de juros, a Selic, que é uma referência para todas as operações de crédito no país. A lógica é desestimular o consumo porque fica mais caro pegar dinheiro emprestado.
Agora, o resultado da inflação desta terça-feira pode virar mais uma pressão sobre a Selic porque saiu bem na véspera da reunião que decide como vai ficar a taxa de juros no Brasil.
A Selic saiu do menor patamar da história, 2% até março, e está em 6,25%. O resultado será divulgado nesta quarta-feira (27).
O que já se sabe é que o aumento dos juros tem outras consequências na economia. De um lado, quem tem algum dinheiro para investir tem rendimentos mais altos, inclusive investidores estrangeiros, que trazem dólares para o país, o que pode baixar a cotação da moeda americana por aqui. Mas por outro lado, deve dificultar a situação das famílias brasileiras que já estão endividadas. Porque financiamentos, cartão de crédito, cheque especial, vão ficar mais caros. O efeito é pior para quem tem menos, porque gasta quase tudo que tem com comida.
O economista André Perfeito diz que vai ser preciso mais do que aumentar os juros, para resolver o problema da inflação e as consequências dela para toda a economia, principalmente, para os mais necessitados.
‘A situação econômica e social no Brasil está tão grave, mas tão grave, que o próprio governo resolveu romper o teto de gastos, que era uma bandeira deles, para tentar atuar em nome dos menos favorecidos. O problema que está acontecendo é que a emenda sai pior que o soneto. A gente está vivendo um momento dramático, socialmente muito agudo no Brasil, mas ela vai dar com uma mão e tirar com a outra pela falta de planejamento que gera ruído nas variáveis financeiras e também na inflação’.
‘A situação econômica e social no Brasil está tão grave, mas tão grave, que o próprio governo resolveu romper o teto de gastos, que era uma bandeira deles, para tentar atuar em nome dos menos favorecidos. O problema que está acontecendo é que a emenda sai pior que o soneto. A gente está vivendo um momento dramático, socialmente muito agudo no Brasil, mas ela vai dar com uma mão e tirar com a outra pela falta de planejamento que gera ruído nas variáveis financeiras e também na inflação’.
Fonte: G1.Globo