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Gigantes se conectam às startups para inovar

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Com colaboração de startups, Bradesco criou o banco digital Next

O Brasil não está bem posicionado no cenário mundial da inovação. Em 2017, o País ficou estagnado no 69º lugar, atrás de vizinhos, como Colômbia e Uruguai, no Índice Global de Inovação, publicado pela Universidade de Cornell. Fatores que já dificultam fazer negócios no País – como burocracia, carga tributária e baixa qualidade da educação – prejudicam ainda mais empresas que tentam inovar.

Mesmo assim, há empresas que conseguem. Algumas delas, graças à aproximação com as startups – empresas iniciantes de base tecnológica com grande potencial de crescimento –, outras ao apostar em outras estratégias, como a colaboração com universidades. Ao trabalharem com startups, as grandes empresas incorporam em seu dia a dia metodologias – como design thinking, Canvas e desenvolvimento ágil – para criarem mais rápido novos produtos e serviços e reduzir riscos.

A Totvs, gigante brasileira de software, por exemplo, investiu mais de R$ 1 bilhão em pesquisa e desenvolvimento nos últimos cinco anos para incorporar novas tecnologias, como inteligência artificial, análise de grandes conjuntos de dados (Big Data) e internet das coisas para tornar-se mais ágil e eficiente.

Totvs remodelou seu escritório para se aproximar das startups

Uma das iniciativas da companhia é o iDexo, um instituto sem fins lucrativos para conectar startups com grandes corporações. Outra iniciativa foi criar um braço de investimentos, que selecionou, no começo de 2018, duas startups para receber os primeiros aportes.

“Uma boa prática de inovação é derrubar os muros sob todos os aspectos, conversar com pares e concorrentes”, diz o líder de transformação digital da Totvs, Mário Almeida. “Um mote do mundo das startups é que a ideia não vale nada. O que vale é a execução. Abrir a estratégia ajuda a identificar erros.”

Lado a lado. O banco Bradesco também tem investido numa ideia semelhante, com bons resultados. Em fevereiro, inaugurou o Habitat, um espaço de trabalho compartilhado próximo à Avenida Paulista, em São Paulo. Ele faz parte do inovaBra, programa de inovação com startups criado pelo banco em 2012. Desde que lançou o programa, o banco já testou 32 tecnologias criadas por startups e pretende dobrar esse número em 2018.

Segundo o diretor executivo do Bradesco Luca Cavalcanti, a proximidade com startups traz agilidade. “A transformação digital não se restringe à tecnologia”, diz o executivo. “É uma mudança de cultura.”

Mas, mesmo com a ajuda das startups, o processo não é tão simples assim. O banco costuma realizar testes controlados, integrando as tecnologias das startups aos seus sistemas e liberando-as para parte de seus clientes. “A principal complexidade é a integração.”

O resultado mais visível alcançado até agora foi a criação do banco Next, uma resposta ao avanço das startups na área de serviços financeiros. Startups selecionadas no inovaBra ajudaram a construir o banco digital: a Semantix elaborou algoritmos para categorizar gastos, enquanto a Sensedia tornou possível a integração do Next com os sistemas já existentes do Bradesco.

Evolução. “Vejo o ecossistema brasileiro de inovação evoluindo muito”, diz Guilherme Horn, diretor de inovação da consultoria Accenture. Segundo ele, as grandes empresas precisam vencer três grandes desafios para inovar: governança, cultura e incentivos. O primeiro corresponde à gestão das atividades. “A empresa precisa definir o que considera sucesso e quais são as metas”, explica.

A cultura é o maior desafio, pois as empresas precisam estar abertas a contratar pessoas com perfis diferentes. “A inovação vem mais do fluxo de ideias de pessoas diferentes do que de mentes brilhantes”, destacou. Quanto aos incentivos, é necessário incentivar os executivos a correr riscos. “Metodologias ágeis podem reduzir o ciclo de desenvolvimento de projetos, o que ajuda a encontrar falhas mais rapidamente e diminui eventuais prejuízos.”

Etnobotânica. Apesar de toda efervescência do ambiente de inovação no Brasil, existe um ponto fraco. A maioria das startups brasileiras trabalha com tecnologias digitais, que exigem investimento relativamente baixo. Contudo, em áreas mais complexas, como biotecnologia, há menos startups.

Natura criou programa de inovação aberta, que inclui fornecedores, universidades e startups

“Em cidades como Boston e São Francisco existe uma quantidade quase infinita de startups de biotecnologia”, afirma Daniel Gonzaga, diretor de desenvolvimento de produto e inovação da Natura. A fabricante de cosméticos aposta num programa de inovação aberta mais amplo, que inclui universidades, fornecedores e centros de pesquisa, além de startups.

Atualmente, a Natura tem 400 projetos de inovação em andamento e cerca de 65% da receita total da empresa vêm de produtos lançados nos últimos dois anos. Um deles é a linha Ekos Patauá, que usa o óleo do fruto da palmeira, originária da Amazônia, para fortalecer os fios de cabelo e acelerar o crescimento. “Aplicamos ferramentas de genômica ao conhecimento tradicional”, disse, sobre os esforços da empresa em etnobotânica, área que estuda a relação entre os vegetais e a sociedade ao redor deles.

A Natura usa desenvolvimento ágil e ferramentas de Big Data para encurtar o ciclo de criação de produtos. Para reduzir o risco inerente ao processo, Gonzaga aposta em ciclos rápidos de testes, as provas de conceito. “Não posso trabalhar três anos num projeto para depois cancelar”, diz o executivo. “Falhar rápido é importantíssimo.”

Para reforçar a inovação, a Cielo acabou, no ano passado, com a área responsável por ela. “Não fazia mais sentido ter uma área, pois a inovação é responsabilidade de todos”, explicou Diego Feldberg, diretor de inovação da empresa. No lugar, a empresa criou o Garagem Cielo, uma plataforma de inovação aberta com três frentes: colaboradores, clientes e ecossistema (startups e universidades). Com isso, a Cielo busca uma mudança cultural.

Feldberg apontou o Cielo Lio, um terminal inteligente de pagamentos, como exemplo da iniciativa de inovação aberta. Lançada em 2016, a máquina encerrou o ano passado com mais de 60 aplicativos em sua loja, resultado da aproximação da Cielo com startups. Segundo Feldberg, esses aplicativos já refletem a mudança que aconteceu com o fim do departamento de inovação.

Armando Ennes do Valle Jr., vice-presidente da Whirlpool — dona das marcas Brastemp e Consul — para América Latina, destacou a necessidade de envolver o consumidor no processo de inovação. “Depois das pesquisas de mercado das etapas iniciais, os consumidores são chamados para participar de atividades de cocriação com nossas equipes de design e tecnologia para gerar conceitos que atendam suas necessidades e, após serem refinados, os conceitos construídos são testados em laboratórios, simulando o ambiente doméstico”, explicou.

A Whirlpool faz cerca de 80 estudos por ano, conversando com mais de 15 mil consumidores. Um exemplo concreto desse trabalho é a cervejeira lançada pelo Consul neste ano, primeiro modelo 100% conectado. “Identificamos por meio de uma pesquisa que a conectividade era uma característica desejada pelos consumidores.” O produto permite controlar estoque e temperatura num aplicativo, além de enviar avisos quando a cerveja estiver acabando e permite comprar a bebida com um toque.

“A necessidade de inovar tem aumentado”, afirmou Yran Dias, sócio responsável por inovação na McKinsey. “A linha que separa as indústrias e os setores é cada vez mais tênue, com mudanças no comportamento dos consumidores. É um assunto super importante num momento de retomada de crescimento da economia.”

Fonte: Estadão

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