É tradição em vários lugares do mundo encerrar o ano com uma contagem regressiva. Na indústria farmacêutica não será diferente, mas o que estará no “0” não será o “feliz ano novo”, e sim o fim de patentes de medicamentos.
Segundo levantamento do portal BioSpace, nove remédios verão sua patente vencer em 2024 e players do mercado olham atentamente oportunidades para produzir suas versões genéricas.
2024 marca o fim das seguintes patentes de medicamentos
Venvanse – Takeda
Começamos a lista com o Venvanse, da Takeda. O dimesilato de lisdexanfetamina do laboratório japonês detém duas patentes que se encerram em 2024. A primeira, para uso adulto, vence em fevereiro. Já a segunda, para o uso pediátrico, perderá exclusividade em agosto.
O medicamento é uma anfetamina oral indicada para o tratamento do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
O fármaco gerou mais de US$ 2,5 bilhões (R$ 12,2 bilhões) para os cofres da companhia, o que fez com que laboratórios como Mylan, Sandoz e Teva planejem fabricar sua versão genérica.
Segundo Sean Tu, professor de direito da Universidade de West Virginia, o impacto da perda da patente para a Takeda não deve ser grande, devido ao portfólio mais diversificado mantido pela farmacêutica.
Eraxis – Pfizer
A situação do antifúngico intravenoso Eraxis, da Pfizer, é um pouco mais complexa. A patente original do remédio venceu em 2020, mas uma cláusula de exclusividade para o tratamento de um novo público estendeu esse período para até setembro do próximo ano.
No Brasil, já é possível encontrar alguns genéricos com o princípio ativo, mas, nos Estados Unidos, essa ainda não é a realidade. Com base nessa informação, Tu aponta que, inicialmente, o impacto para o laboratório norte-americano não será tão elevado.
Stelara – Johnson & Johnson
Aplicado no tratamento da doença de Crohn e da psoríase, o Stelara, da Johnson & Johnson, perderá a patente de uma das moléculas presentes em sua composição na segunda quinzena de setembro.
Para aliviar o impacto inicial, o laboratório de Nova Jersey (EUA) fechou um acordo com a Alvotech e com a Teva para que ambas não produzam biossimilares de ustekinumab antes de 2025.
Tal acordo tem um motivo. Apesar de não ser o único motor de vendas da farmacêutica, em 2022 o remédio foi responsável por mais de 10% da receita da companhia. A expectativa já para 2024 é que as vendas do Stelara cairão US$ 2 bilhões com possíveis concorrentes genéricos.
Isentress – Merck
Utilizado no tratamento do HIV, o antirretroviral Isentress, da Merck, arrecadou US$ 633 milhões (R$ 3,1 bilhões) em 2022, mesmo com as vendas em queda com o iminente acirramento da concorrência
Algumas das patentes que protegiam o raltegravir já se encerraram no começo do ano e outras duas vencem no próximo mês de outubro. Um genérico produzido pela Hetero Labs já recebeu, inclusive, uma aprovação provisória.
Zonkinvy – Eiger/Merck
A californiana Eiger Biopharmaceuticals tinha como carro-chefe o Zokinvy, tratamento inédito contra progéria – síndrome rara que causa o envelhecimento acelerado.
O laboratório vendeu o medicamento para a Merck, que faturou US$ 12 milhões (R$ 58,7 milhões) em 2022 e US$ 4,1 milhões (R$ 20 milhões) no primeiro semestre deste ano. A primeira patente que protege o remédio expirou no último mês de outubro e a próxima vence em julho de 2024.
Myrbetriq – Astellas
Apenas em 2022, a Astellas arrecadou US$ 1,35 bilhão (R$ 6,61 bilhão) com o medicamento para incontinência urinária Myrbetriq. Mas o domínio de mercado começou a cair já neste ano.
No último mês de novembro, a primeira patente venceu e as adicionais acabam em maio. A farmacêutica tentou estender a patente na Justiça para até 2030, mas não teve sucesso. Os genéricos de mirabegron já estão muito próximos de se tornar realidade, uma vez que laboratórios como Lupin Labs e Zydus Cadila observam de perto a situação.
Entresto – Novartis
Combinando sacubitril e valsartan, o Entresto, da Novartis, é destinado ao tratamento da insuficiência cardíaca. Suas patentes começaram a expirar no começo do ano e, até o primeiro semestre de 2024, todas terão vencido.
Para piorar a situação da farmacêutica, a Justiça invalidou uma patente adicional que daria mais tempo de exclusividade, adicionando mais um ano de “tranquilidade”. O genérico do combinado está na alça de mira da Mylan. Em paralelo, a Novartis vem buscando acordos com fabricantes para preservar sua “fatia do bolo”.
Otezla – Amgen
Voltado ao tratamento da psoríase, o Otezla, da Amgen, viveu um 2023 difícil, com várias patentes se encerrando em março e uma perda de exclusividade em dezembro. Com tal cenário, vários genéricos de apremilast começaram a receber aprovações provisórias, mas o laboratório conseguiu bloquear as comercializações até 2028.
Victoza e Saxenda – Novo Nordisk
Entre o final de 2023 e o primeiro semestre de 2024, as patentes que protegem as injeções recombinantes de liraglutida da Novo Nordisk chegarão ao fim.
Em 2022, tanto o Victoza, quanto o Saxenda, registaram arrecadação bilionária, respectivamente US$ 1,8 bilhão (R$ 8,8 bilhões) e US$ 1,5 bilhão (R$ 7,3 bilhões).
Falando do primeiro, a expectativa é que Mylan, Pfizer, Sandoz e Teva lancem versões genéricas já no primeiro semestre de 2024. Já sobre o segundo, a farmacêutica processou laboratórios que tentaram comercializar versões genéricas em 2022.
A Novo Nordisk não vem esquentando tanto a cabeça com a perda dessas patentes, uma vez que já tem uma nova menina dos olhos, o Ozempic.
A título de comparação, o fármaco faturou US$ 2,9 bilhões (R$ 14,2 bilhões) no primeiro trimestre deste ano, contra US$ 898 milhões (R$ 4,4 bilhões) das injeções recombinantes somadas.