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Um Mal Chamado Polifarmácia

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Médicos criam movimento para alertar para o consumo excessivo de remédios.

Quem faz uso de cinco ou mais remédios, todos os dias, está vivendo um problema conhecido como polifarmácia. A condição é comum entre os idosos, devido a uma prevalência maior de doenças e comorbidades. Mas outras pessoas podem ser vítimas dos efeitos colaterais e das interações negativas entre os medicamentos. Os médicos estão atentos aos exageros, tanto que, buscando reduzir o consumo desnecessário de remédios e exames, criaram, em 2012, nos EUA, o movimento Choosing Wisely (algo como “fazendo escolhas inteligentes”).

A ideia por trás desse movimento é que cada especialidade médica separe, em uma lista, os procedimentos e os fármacos que deveriam ser deixados para trás, por não terem os benefícios cientificamente comprovados. Entre os geriatras, a lista resultante é extensa. Após analisá-los em conjunto, no fim do ano passado, os especialistas norte-americanos listaram medicamentos que poderiam deixar de ser prescritos. Entre eles, chamam especial atenção os laxantes, sobretudo o docusato de sódio (veja o quadro ao lado).

Esse medicamento da classe dos laxantes catárticos é velho conhecido (e temido) dos gastroenterologistas. Se usado de forma crônica para tratar a constipação, pode levar a uma ineficiência da evacuação.

– O paciente fica dependente dos laxantes para evacuar e cada vez tem de usar uma quantidade maior do medicamento, porque o intestino fica viciado – explica Jonathas Stifft, médico gastroenterologista do hospital Moinhos de Vento e integrante da Federação Brasileira de Gastroenterologista.

Além de gerar esse efeito colateral importante, os laxantes podem estar escondendo as causas da constipação. Por exemplo, o hipotireoidismo, que, quando tratado com medicamentos analgésicos opioides, derivados da morfina, leva aos mesmos sintomas. Mesmo o câncer do intestino grosso pode apresentar, dentre outros sintomas, uma dificuldade para evacuar.

– O docusato é um laxante usado para situações agudas e eventuais. Se um paciente estiver muito constipado, e não apresenta melhora com outros tratamentos, pode ser usado por alguns dias – explica Stifft. – Quando encontro um paciente que faz uso crônico desse tipo de laxante, e não é raro, tento mudar para outros tipos, como óleo mineral, um lubrificante do intestino. Também fazemos as recomendações nutricionais, além de repor as fibras.

Idosos em alerta

Além da prevalência de múltiplas doenças crônicas, as pessoas mais velhas exigem atenção maior de médicos e familiares no consumo de medicamentos não apenas pela quantidade ingerida, mas também porque o envelhecimento gera alterações de absorção.

– O tempo de ação do remédio pode ser diferente conforme a idade de quem o consome. O momento em que ele age no organismo pode mudar. Há, portanto, aumento no risco de toxicidade dos medicamentos entre os mais velhos. O principal risco dos benzodiazepínicos (usados para o manejo da ansiedade e da insônia em idosos) é que eles geram sono e, nas pessoas mais velhas, pioram a memória. Podem ocasionar também a queda da pressão e facilitar tombos – alerta Geraldine Guimarães, médica geriatra do hospital Vita Batel, de Curitiba.

Outro medicamento listado pelo movimento Choosing Wisely é o inibidor da bomba de prótons, sendo o mais conhecido deles o omeprazol. Embora esse remédio seja contraindicado a qualquer paciente – é usado apenas em casos específicos -, para os idosos os efeitos podem ser especialmente danosos.

– É cultura de alguns médicos prescrever o omeprazol ao paciente que faz uso de muitos medicamentos, com o objetivo de proteger seu estômago. Mas esse remédio diminui a absorção de cálcio, aumenta o risco de demência e de fraturas e diminui a função do rim. Qualquer pessoa que fizer uso crônico do omeprazol corre esse risco. Nos mais velhos, o risco é maior – reforça Guimarães.

Um dos objetivos da criação das listas da Choosing Wisely é que elas cheguem aos pacientes, e esses tomem para si a oportunidade de saberem um pouco mais dos tratamentos indicados pelos médicos.

– Essa campanha não tem só um objetivo educativo dentro da classe de assistência à saúde, mas também de orientar e educar a população leiga. Deve-se indicar que as pessoas em geral busquem informações de diferentes formas, e todo o mundo tem o direito e o dever de questionar seu médico para entender e solicitar informações adicionais sobre os medicamentos receitados – sugere Renato Bandeira de Mello, médico geriatra, diretor científico da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) e membro da Choosing Wisely Brasil.

Os vilões

Confira a lista dos medicamentos que deveriam deixar de ser prescritos segundo os médicos participantes do movimento Choosing Wisely

Laxantes, especialmente o docusato de sódio;

Antibióticos antes de procedimentos odontológicos;

Inibidores da bomba de prótons, como o omeprazol;

Estatinas, a exemplo dos fármacos de prevenção primária;

Benzodiazepínicos (para idosos);

Betabloqueadores (antiarrítmicos ou anti-hipertensores de uso prolongado);

Remédios para asma e doença pulmonar obstrutiva crônica (em pacientes sem o diagnóstico dessas doenças);

Antimuscarínicos (contra incontinência urinária);

Inibidores de colinesterase para Alzheimer;

Relaxante muscular para dor nas costas;

Suplementos em geral.

Fonte: Zero Hora

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