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Ceará perdeu 1 a cada 16 idosos acima de 90 anos vítimas de Covid na pandemia

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A taxa de letalidade se concentra entre os nonagenários no Estado e o grupo registra mais de 2 mil mortes; esquema vacinal completo é determinante para proteção. Quem tem mais idade – devido à fragilidade do sistema imune e associação com outras doenças – está mais vulnerável à Covid-19.

No Ceará, pessoas com mais de 90 anos concentram os óbitos entre idosos: foram 2.097 perdas desde o início da pandemia. Em um grupo estimado em 33.265 indivíduos, isso significa que um a cada 16 nonagenários morreu por causa do coronavírus.

Os dados de óbitos são registrados pela Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), disponibilizados na plataforma IntegraSUS e analisados pelo Sistema Verdes Mares. Os cálculos foram feitos com base em informações até o domingo (20). Para isso, foram consideradas as estimativas populacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para 2021. Dessa forma, fica nítido o aumento da taxa de letalidade conforme o avanço da idade das vítimas da doença.

A faixa etária entre 70 e 74 anos têm o maior número total de óbitos (3.392). Mas, nesse caso, a proporção é de 1,5% do grupo estimado em 227.318 indivíduos. Ao todo, 19.199 pessoas acima de 60 anos tiveram a vida interrompida pela doença desde o início da pandemia.

“A causa principal da maior vulnerabilidade dos idosos se dá pela queda da imunidade com a idade. Isso se faz mais presente quando você tem associada outras questões sociais”, aponta Lígia Kerr, epidemiologista e professora na Universidade Federal do Ceará (UFC).

Entre os aspectos sociais, a dificuldade comum aos idosos para o cadastro e acompanhamento da lista de vacinação nos meios digitais é apontada como um dos fatores prejudiciais à imunização. Além disso, a falta de unificação do processo.

“Nós não tínhamos vacina para todo mundo, porque o nível federal não tinha comprado, e os idosos acabaram sendo os mais prejudicados”, avalia.

Em um contexto em que as vacinas se tornaram acessíveis à população em geral, cumprir todas as etapas de imunização ganha ainda mais relevância para proteger os mais velhos.

O reforço vacinal também contribui para evitar o surgimento de variantes fora do alcance de proteção dos imunizantes já disponíveis para a população.

“Uma variante para se suceder bem nesse período tem que passar por cima da nossa imunidade, da vacina e da doença, o que é tudo que não queremos. Por isso que a gente recomenda cautela”, frisa a especialista.

Saúde pública para idosos

O controle da pandemia também não pode deixar de lado outras doenças, como a pneumonia, que impacta a população mais idosa, como analisa Júlio Racchumi, demógrafo e professor na Universidade Federal do Ceará (UFC).

“Se a gente não tivesse a vacina essa mortalidade seria maior ainda, só que a gente não pode esquecer que todas essas doenças são meio escondidas porque a gente teve que priorizar a pandemia”, destaca.

Do ponto de vista demográfico, a gente pode analisar várias variáveis: a mortalidade com certeza foi influenciada, as taxas aumentaram muito nesse público etário, mas também a comorbidade, que estão associadas aos (outros) problemas de saúde – JÚLIO RACCHUMI – Demógrafo.

Com isso, o especialista aponta a queda em cerca de quatro anos na expectativa de vida da população durante a pandemia, o que reforça a necessidade de definir estratégias de saúde para os idosos.

“A gente também tem que refletir sobre a saúde pública nesse grupo etário. Em média, nos países desenvolvidos e em desenvolvimento, (os casos de Covid) tiveram maior impacto, mas foi muito grande nessa região do mundo”, destaca.

Saudade que persiste

Raquel Benevides, de 39 anos, acompanhou o diagnóstico, a internação e a notícia da morte do pai, aos 68 anos, vítima de uma doença ainda desconhecida, em junho de 2020. O tempo trouxe a proteção contra a Covid, mas a ausência permanece.

“O primeiro ano é muito difícil, porque tem datas importantes que são as primeiras sem ele. Esse ano, com tudo voltando e com a vacina, a gente sente demais por ele não ter tido a oportunidade de se vacinar, que tanta gente tem, mas desperdiça”, avalia.

Na época, o pai da Raquel não deixou de trabalhar por atuar em uma panificadora, um dos estabelecimentos essenciais, e os primeiros sinais da doença surgiram leves. A baixa na oxigenação foi o alarme.

“Foram quase 48 dias internados, um tratamento bem doloroso, não tinha visita de jeito nenhum, eu passava o dia no hospital tentando uma visita”, lembra sobre os dias de incerteza. Na sequência, foi feita intubação, mas sem sucesso.

“A gente sente demais a falta dele e lamenta pela pandemia ter levado um ente da nossa família tão querido. (Um momento que) machucou tantas famílias”, conclui.

Fonte: Jornal Diário do Nordeste – CE

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