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‘Gasto cerca de R$ 700 por mês’: busca por beleza faz mulheres movimentarem indústria estética

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Do cabeleireiro para o esteticista, malhar o dia inteiro, uma vida de artista. A rotina da burguesinha do Seu Jorge pode até parecer sonho para muitas, mas é realidade para algumas mulheres.

Contudo, essa programação é reflexo de uma pressão estética, que compele os indivíduos, sobretudo femininos, a uma busca incessante para atingir um determinado padrão de beleza.

Para além da problemática dos excessos, o desejo de atingir um ideal de corpo e de pele, por exemplo, faz, muitas vezes, com que as mulheres gastem além da conta com procedimentos, produtos ou mesmo na contratação de profissionais.

Para a empresária Laura Bandeira, o desejo de manter uma boa autoimagem é uma prioridade e a faz gastar de R$ 500 a R$ 700 por mês com procedimentos e produtos.

Para isso, ela mantém esse valor como um gasto fixo no orçamento para conseguir se planejar sem fazer dívidas. O preço, contudo, varia conforme o mês e, quando inclui idas ao médico dermatologista, sobe para cerca de R$ 1,8 mil a R$ 2 mil.

Diante da minha profissão eu procuro sempre trazer meu bem estar interno. A forma como eu me comunico não verbalmente, desde a minha vestimenta a minha pele, é uma vitrine para o meu trabalho. Não coloco isso como uma futilidade dentro do meu orçamento e sim como prioridade’.

Laura Bandeira

empresária

Nestes valores, a empresária inclui a manutenção do alongamento de unhas e de cílios, inteligente e mechas no cabelo, sobrancelhas, limpeza de pele, peeling e aplicação de toxina botulínica, massagens, entre outros.

Mulheres gastam mais que homens?

A Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) 2017-2018, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou que as mulheres gastam mais que o dobro com serviços de beleza que os homens. O levantamento, realizado a cada 6 ou 7 anos, leva em consideração informações de 75 mil domicílios de 1.900 municípios.

Naqueles anos, o custo mensal médio de mulheres com serviços como cabelereiro, manicure, esteticista era de R$ 58,71, enquanto para homens o valor era de R$ 38,35. Além disso, as faixas etárias entre 26 a 45 anos são as que mais gastam com esses tratamentos.

Demanda aumenta

A médica Hercília Queiroz, especialista em Dermatologia pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), atua com a aplicação de toxina botulínica, preenchedores, lasers, por exemplo, e relata que a procura é muito grande – e tem crescido – para tratamentos como esses.

‘Ao longo desses quase 10 anos como especialista, a gente tem visto esse vínculo enorme com as mídias sociais, que trazem uma velocidade na propagação de informação tanto positivas quanto negativas no mundo da estética, é preciso ter cuidado na escolha do profissional e no procedimento a ser realizado’.

Além disso, segundo a médica, é comum que pacientes cheguem ao consultório pedindo para ter o resultado igual de algum famoso.

‘Aquele procedimento foi indicado para um biotipo e um paciente específico, não necessariamente vai ser indicado para todo mundo. Converso muito sobre isso no consultório. Cabe ao profissional experiente e cauteloso, explicar ao paciente, especialmente sobre o resultado’, diz.

Mercado para mulheres?

A nutricionista e doutoranda em Saúde Coletiva pela Universidade Estadual do Ceará (Uece), Pabyle Flauzino, aponta que essa pressão por uma estética desejável atende a uma ‘lógica de mercado’. ‘O capitalismo vai criar essas demandas, existe um mechado para cada parte do corpo que precisa ser modificado’.

Não à toa essa indústria da beleza e da dieta movimenta bilhões de dólares no Brasil, nós temos um mercado muito grande desse nicho sempre às custas das mulheres. Um homem consegue ocupar um cargo superior e não ter a aparência julgada, então é óbvio que essas mulheres vão recorrer a procedimentos estéticos para se manter nesses locais’.

Pabyle Flauzino

nutricionista

A consultora de estilo Elaine Quinderé corrobora que esse padrão é determinado, inclusive, para promover lucro para as indústrias. “É a forma mais fácil de lucrar, desde o gelzinho redutor de medidas até a bariátrica, é o exemplo mais exagerado que eu posso dar’.

Falando como mulher gorda, a vontade de parar de sofrer é o que faz com que a gente acabe recorrendo a certos procedimentos, ou uma dieta super restritiva e uma rotina de exercícios físicos intensa e exagerada’.

Elaine Quinderé

consultora de estilo

No contrafluxo

Apesar de ser nutricionista, Pabyle saiu do lugar comum que a profissão a habilita de prescrever dietas para focar na alimentação básica como direito e provedora de saúde dos indivíduos.

Para ela, a tentativa de libertar mulheres desses padrões é repleta de represálias, porém traz alívio para muitas que se tornam reféns desses movimentos. ‘Conheço mulheres que passaram 40 anos da vida dedicadas a mudança corporal, que fizeram centenas de procedimentos, dietas, e não conseguiram esse objetivo, para elas é um alívio’.

‘Percebo ainda como isso é direcionado, mulheres que estavam presas a essa rotina de academia, dieta, acabam descobrindo outras coisas que gostam de fazer. Acabo encontrando um pouco de sentido de continuar esse trabalho’, revela.

De acordo com a nutricionista, esse padrão de beleza construído no Brasil é, hoje, hegemonicamente magro, musculoso e branco, e representado pelas mídias há uma noção de que atingi-lo é possível.

Existe uma noção da controlabilidade do peso do corpo e faz com que a gente acredite que qualquer uma com um procedimento estético terá o corpo igual da modelo do Instagram. Não é errado fazer o procedimento, mas é preciso ser dentro da realidade”.

Pabyle Flauzino

Assim como Pabyle, Elaine diz que esse movimento é ‘nadar contra a maré o tempo inteiro’. ‘A consultoria de estilo pode ser uma grande fonte de inseguranças, é capaz de alimentar gordofobia e pressão estética’.

‘Fazer uma consultoria de estilo ‘diferente’, menos conservadora e menos contraditória é ser crítica o tempo inteiro e às vezes ser considerada chata. Mas eu quero fazer com que aquela pessoa fique livre para tomar as próprias decisões, entendendo que ela é uma vítima do sistema e não a culpada por não querer vestir um cropped para não mostrar a barriga, por exemplo’.

Vai fazer? Cuidado com as escolhas

Apesar de alguns procedimentos, como cirurgias plásticas envolver riscos à saúde, a escolha é sempre da mulher de optar por fazer ou não. Por isso, caso decida recorrer a tratamentos estéticos para melhorar a autoestima, a dermatologista aponta ser necessário ter alguns cuidados na hora da escolha.

‘Escolha um profissional que seja capacitado, verifique se há registro nos conselhos de profissão e outros resultados de procedimentos já realizados’, pontua.

Além disso, Hercília afirma que o manejo correto desses artifícios pode trazer naturidade sem desmerecer ou desvirtuar o envelhecimento saudável.

‘É possível envelhecer com uma dieta equilibrada, associação da atividade física, a associação de procedimentos que vão elevar a autoestima desses pacientes e vão proporcionar bem-estar, o que engloba a saúde de um modo geral’, conclui.

Fonte: Diário do Nordeste

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